Ronaldo Luiz Martins
INTRODUÇÃO
Atualmente a valorização do
passado das cidades e de suas múltiplas localidades, é uma característica comum
às suas sociedades, que buscam em “instituições de memória", a
identificação e preservação de seus bens materiais, das suas histórias
documentadas, suas vidas sociais, tradições, culturas e dos registros das
chamadas “memórias orais”. Na Cidade do Rio de Janeiro, entre
outras mais destas instituições, em 2010 formou-se, sem identidade jurídica e
por adesão voluntária e diletante, o coletivo Instituto Histórico e Geográfico
Baixada de Irajá – IHGBI, reunindo pessoas de diversas formações no estudo,
pesquisa e divulgação do conhecimento multifário da localidade representada
pela região geográfica Baixada de Irajá desta cidade, como especificado em sua
denominação.
O trabalho em apresentação,
de autoria de um dos fundadores do IHGBI, Ronaldo Luiz Martins, é a divulgação
de grande parte dos conhecimentos obtidos no âmbito de atuação deste coletivo,
tendo por objetivo, sem esgotar tudo que se possa ainda relatar, no conceito de
“História do Lugar”[1], apresentar
uma narrativa quanto a formação e evolução histórica da região que no século
XVII era identificada como Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá,
e é hoje representada por 38 bairros.
Inspirado na forma como o
professor e jornalista autodidata Capistrano de Abreu[2],
em contraponto a clássica abordagem histórica de sua época, produziu a
obra Capítulos de História Colonial (1907), parodiado
esse título, Capítulos de História da Baixada de Irajá,
desenvolvido em modo não acadêmico, objetiva detalhar os mais de quatrocentos
anos da Baixada de Irajá, região que no século XVII, foi a
maior produtora do açúcar que concorreu para o desenvolvimento da Cidade
do Rio de Janeiro, e nas décadas de 1930 a 1960, foi o seu maior parque
industrial.
Tendo como meta abordar o
desenvolvimento histórico da Baixada de Irajá dos anos 1500 a 2000, face
ao grande volume de descrições decorrentes, a proposição de Capítulos de História da Baixada de Irajá tem sua edição em faciculos, abordando a
identificação local, este primeiro em edição; os primeiros indígenas ocupantes;
a distribuição territorial e ocupação agroindustrial; a produção açucareira; a
Freguesia de Irajá; a passagem a economia de sustentação no Ciclo do Ouro; o
fim da agroindústria açucareira; evolução no Século XIX; a urbanização e
industrialização; crises da primeira metade do Século XX; aspectos culturais e
histórico dos anos 1960 a 2000.
Neste primeiro fascículo “O Que é Baixada de Irajá”, é apresentado o recorte geográfico
da proposição em seus aspectos de limites geográficos e político
administrativos quanto a Cidade do Rio de Janeiro, sobre os quais embasam e referenciam as descrições nos fascículos
seguintes. As descrições político-administrativas são baseadas em
diversos informativos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Governo do
Estado do Rio de Janeiro. As descrições geográficas e topográfica, além de
consolidadas em diversos informes de institutos geográficos, teses e
monografias, são baseadas em pesquisas do autor por processos e ferramentas de
Tecnologia de Informação – TI, em geoprocessamento sobre base de imagens
digitais de satélite da plataforma Google Earth, realizadas de 2018 a 2023.[3] Quanto aos dados desta pesquisa é necessário observar
que face as limitações dos recursos de disponíveis a sua execução, e a não precisão geodésica das imagens de rastreio, que em atualizações
sucessivas se apresentaram em angulares e altitudes diferenciadas em relação
ao plano de visualização, não havendo precisão absoluta, as coordenadas e
medidas de extensões e altitudes são de simples referências.
Objetivando a não constante repetição de vocábulos e menor
extensão de texto, nas descrições apresentadas são utilizadas as abreviações BI
para Baixada de Irajá, mext para
metros de extensão e malt para
metros de altura.
[1] História do Lugar tem por conceito a tese de produção de conhecimentos locais proposta pelo Professor Doutor Joaquim Justino Moura dos Santos (1935-2024), docente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e participante do IHGBI, em referência ao seu artigo “História do Lugar: um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental” (História, Ciências, Saúde-Manguinhos - Rio de Janeiro, v. 9, n.1, p. 105-125, 2002).
[2] João
Capistrano Honório de Abreu (1853-1927) foi um historiador brasileiro. Autodidata, sendo
um dos primeiros grandes historiadores do Brasil, produzindo ainda nos campos
da etnografia e da linguística. A sua obra é caracterizada por uma rigorosa
investigação das fontes e por uma visão crítica dos fatos históricos, sendo que
suas pesquisas fazem contraponto à clássica de Francisco Adolfo de
Varnhagen. - https://pt.wikipedia.org/wiki/Capistrano_de_Abreu.
[3] O autor,
Ronaldo Luiz Martins, é analista de sistema e em 1980, pela Universidade Gama
Filho / Gama Datacentro, acompanhou o trabalho do Prof. Dr. Jorge Xavier da
Silva (1935-2021) da UFRJ, pioneiro do Geoprocessamento no Brasil.
Posteriormente prestou consultoria de Geoprocessamento a prefeituras clientes
de aerofotogrametria da Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, e de 1990 a 2000,
quando se aposentou, teve atuação na comercialização de sistemas
geoprocessamento pela MI Montreal Informática.
O LUGAR BAIXADA DE IRAJÁ
Ao se
propor apresentar a história de um lugar, torna-se necessário primeiro que se
defina onde é esse lugar e qual é a sua origem. O bloco em apresentação tem
esse objetivo: Fazer a definição do lugar “Baixada de Irajá”, aqui referenciado
como “BI”. Este, integrante do território do Município do Rio de Janeiro, é
mais amplo quando se destaca por limites de formações geológicas, porém é
também destacado nos limites do seu espaço inserido no desenvolvimento
histórico e social de sua cidade, consequente dos momentos e objetivos de sua
ocupação sócio econômica, possuindo destaques que, sendo em muito também
influentes nas demais regiões, apresentam características
particulares.
Desta
região geográfica, com cerca 143 km², extraindo 100 km² referentes às
áreas dos bairros de Realengo, Vila Militar associados a Baixada de Campo
Grande, a e região do Maranguá, atual bairro de Praça Seca, que teve seu
processos de ocupação e desenvolvimento associado a Baixada de
Jacarepaguá, efetivamente 123 km² compõem o espaço histórico da BI, que se localiza ao norte do Município/Cidade do Rio de Janeiro. A
BI histórica corresponde em média a 21.700 metros de profundidade
leste/oeste da Baía de Guanabara e 8.540 metros de largura, com extremos
geográficos em 22º.93’S - 43º.24’O; 22º.50’S - 43º.14’O; 22º.48’S -
43º.16’O; e 22º.49’S - 43º.25’O, área entre as pontas dos Maciços da
Tijuca, Pedra Branca e Gericinó à oeste; o Maciço da Misericórdia à sul; os
rios Pavuna e Meriti, limite municipal, à norte; e a Baía de Guanabara a
leste.
A denominação desta baixada como de Irajá é a corruptela portuguesa do tupi-guarani yra-yá, eiraiá ou eirajá, que segundo Teodoro Sampaio [1] tem por significado “lugar onde brota o mel” ou “Lugar que dá mel”. Em tupi o “Eira” significava tanto mel quanto abelha e “iá”, cheia, abundante. Tem por origem a referência a aldeia taba Tupinambá Eirajá citada por indígena ao pastor francês Jean de Lery [2], Seria ela uma grande taba de mais de 2.000 habitantes situada na costa de Piraquanopã [3], no litoral esquerdo da Baía de Guanabara, entre as atuais foz do Rio Meriti e a foz do Rio Ramos, acima da chamada Tapera de Inhaúma.
Da Baía de Guanabara, a Iguaá-Mbara
dos indígenas, para o
interior, era ela acessível pelo Para-eirajá, convertido pelos
portugueses para Rio Irajá. Estava localizada em um ponto entre os
atuais bairros de Irajá, Brás de Pina e Vista Alegre. Pesquisas por
geoprocessamento recentemente elaborada por Ronaldo Luiz Martins, no âmbito do
coletivo Instituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá – IHGBI, levam
a supor que a Eirajá estava localizada à margem de um remanso do Rio
Irajá, tendo como área central o atual Largo do Bicão em Vila da Penha.
Possivelmente a taba Eirajá, em tapera após
1567 pela eliminação da resistência Tamoio a ocupação portuguesa, foi em 1570-1574 por Antônio de França, em sua penetração ao
território da BI pelo Rio Irajá, ocupada em apoio a implantação do seu Engenho
de Nossa Senhora da Ajuda.
A
Baixada de Irajá Histórica, de 1743 a 1890, correspondeu ao território
eclesiástico-administrativo da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de
Irajá [4], após
dela serem desmembradas as freguesias correspondentes às baixadas de
Jacarepaguá, Campo Grande e Inhaúma. Sendo inicialmente pertencente a
Capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro, passou seguidamente ao Município
da Corte do Império Brasileiro (1834), Distrito Administrativo de Irajá da
Prefeitura do Distrito Federal (1892) e dividida em bairros e regiões administrativas
ao Estado da Guanabara (1963), e ao Município do Rio de Janeiro (1975).
As unidades bairros com que atualmente se encontra dividida, são regiões político-administrativa de conceito espacial puramente urbano que,
sem marcos históricos e sociais bem definidos, não apresentam origens
inteiramente próprias, sendo as suas formações sociais e históricas
particularmente associadas a região geográfica da qual intrinsecamente são
parcelas.
Atualmente,
estando a Cidade do Rio de Janeiro dividida em 163 bairros, a BI contém 38
bairros (23,3%) e duas frações destes, os quais, tendo algumas
particularidades de formação, possuem origens históricas comuns. Assim, a
despeitos de naturais sentimentos de “bairrismos”, são todos eles integrantes de
um mesmo desenvolvimento histórico territorial, que a seguir é detalhado.
[1] Teodoro Fernandes Sampaio (1855–1937), engenheiro, geógrafo, escritor e historiador brasileiro, em artigo
de cerca de 1910, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB -
apresentou a tradução do vocábulo tupi-guarani Eiraiá ou Eiraja, como significado de “lugar onde brota o mel”, ou “Lugar que dá mel”.
[2] Jean de Léry (1534-1611), pastor, missionário e escritor francês, em 1558, na sua passagem pela França Antártica, registrou a existência, no Recôncavo da Baía de Guanabara, das aldeias/tabas Tupinambá de Eiraiá; Akaray; Sapopé-ma; Karíók; Uyrá-uasú-oé; Josy-yrasík ou Joeyrasík; Pirakâ-iopã; Itanã; Tarakuirapã; Sara-poy; Keriy; Ku-rumuré; Itaók; Joa-raruã; Takuarusutyba; Okarantín; Nurukuy; Ara-satyva; Ysypotyva, o que relatou em seu livro “Viagem à Terra do Brasil” [tradução de Sérgio Milliet – Biblioteca do Exército – 1961]
[3] Piraquanopã, conforme apresentado por
Maurício de Abreu (1948–2011) em “Geografia Histórica do Rio de Janeiro
1502-1700” [Rio
de Janeiro, RJ : Andrea Jakobsson - 2010] é a denominação dada por indígenas ao
primitivo litoral (antes de aterros) oeste da Baía de Guanabara, entre o
extremo leste do Maciço da Misericórdia e os desagues dos rios Irajá e Mereti.
Em tradução livre Piraquanopã significa
“peixe que bate na água - a tainha-", dando sentido ser o assim demarcado
litoral como sendo a “Costa das Tainhas”, espécie de peixes ainda atualmente
presentes no canal entre as ilhas do Governador e do Fundão.
[4] A Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação
de Irajá, foi criada em 30 de dezembro de 1644, pelo Prelado da Capitania Dr. Antonio de Marins Loureiro, e confirmada a 10 de
fevereiro de 1647 por alvará do Rei de Portugal. Foi a terceira freguesia
criada na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e primeira em ambiente
rural. A sua matriz, sede do vicariato, foi estabelecida na capela de
pedra e cal de N. S. da Apresentação, dando seu orago a sua denominação. Foi
seu primeiro vigário o padre Gaspar da Costa, filho do senhor de engenho
homônimo e construtor desta igreja em 1613. Seu território inicial,
além da Baixada de Irajá, abrangia as baixadas de Inhaúma, Campo Grande e
Jacarepaguá. Após os desmembramentos das freguesias destas, passou ela ter como
território somente esta. – Nota: Nos Impérios de Portugal e Brasil, em que a
Igreja Católica Apostólica Romana era religião oficial de Estado, a
administração civil se mesclava com a religiosa, sendo as freguesias distritos
sem autonomia política de administração civil, com foro aos
registros de nascimentos (pelos batismos), casamentos, óbitos e jurídicos de
paz, incluindo negócios, e até mesmo registros inventariais. Eram
seus administradores padres vigários pagos pelo Estado, que tinham
subjetivamente parte de poder social e jurídico em seu território.
A Baixada de Irajá Histórica é relacionada a 38
bairros e duas frações de bairros da Cidade do Rio de Janeiro, esta de 1.200
km² de território total e 640 km² de área urbana. Abrangendo a maior
parte dos bairros situados ao norte da cidade, ocupa desta
123 km² (19%) do espaço urbano. Pelo censo IBGE de 2023, que aponta a Cidade do
Rio de Janeiro com 6.211.223 habitantes em 2.439.321 residências, a BI
tem desta 1.154.088 habitantes (18,6%), em 540.313 residências (22,2%). Em 1961, na formação do Estado da
Guanabara, a população da BI defendeu sua autonomia em quatro municipio ou um
único a ela correspondente [1], e se assim fosse,
atualmente seria a BI o 14° município brasileiro em população, após Guarulhos
(1.291.771 hab.) e antes de Campinas (1.139.047 hab.).
Os bairros da BI são a seguir apresentados com referências ao
mapa abaixo, em ordem alfabética e com suas extensões em km²:
01 - Acari (1,61); |
02 -Anchieta
(4,36); |
03 - Barros
Filho (1,73); |
04 - Bento
Ribeiro (3,00); |
05 - Brás de
Pina (3,53); |
06 - Campinho
(0,99); |
07 - Campo
dos Afonsos (3,26); |
08 - Coelho
Neto (2,52); |
09 - Colégio
(2,27); |
10 - Cordovil
(3,86); |
11 - Costa
Barros (1,82); |
12 - Deodoro
(4,65); |
13 -
Guadalupe (3,83); |
14 - Honório
Gurgel (1,38); |
15 - Irajá (7,50); |
16 - Jardim
América (1,98); |
17 - Jardim Sulacap (7,89); |
18 -
Madureira (3,80); |
19 - Marechal
Hermes (3,90); |
20 - Olaria (3,70); |
21 - Oswaldo Cruz (2,10); |
22 - Parada de Lucas (2,20); |
23 - Parque
Anchieta (3,92); |
24 - Parque
Columbia (1,52); |
25 - Pavuna (8,33); |
26 - Penha (5,83); |
27 - Penha
Circular (4,64); |
28 - Ramos (2,80); |
29 - Ricardo
de Albuquerque (2,12); |
30 - Rocha
Miranda (2,89); |
31 - Turiacu
(1,26); |
32 - Vaz Lobo
(1,10); |
33 - Vicente Carvalho [2]
(1,84); |
34 - Viqário
Geral (3,40); |
35 - Vila da
Penha (1,44); |
36 - Vila
Kosmos (1,52); |
37 - Vila
Valqueire (4,24); |
38 - Vista
Alegre (0,52); |
18A – Cascadura - fração (0,95); |
28A – Maré - fração (0,75); |
Os de maior
população (censo 2023) são: Pavuna
- 95.337 hab.; Irajá - 85.906 hab.; Penha - 58.516 hab.; Anchieta - 52.095
hab.; Olaria - 51.222 hab.; e os de menor população: Campo dos Afonsos - 2.106
hab.; Vista Alegre - 7.059 hab.; Parque Columbia - 8.222 hab.; Campinho - 8.579
hab.; e parte de Cascadura - 8.965 hab.
As maiores densidades
populacionais são: parte da Maré - 194,89 hab./km²; Acari - 184,30 hab./km²;
Vila da Penha - 152,43 hab./km²; Costa Barros - 144,35 hab./km²; Oswaldo Cruz -
142,83 hab./km², e os de menor densidade: Campo dos Afonsos - 6,46 hab./km²;
Jardim Sulacap - 18,25 hab./km²; Deodoro 22,37 hab./km²; Parque Columbia -
54,09 hab./km²; e Parque Anchieta - 55,70 hab./km².
Os bairros com maior
número de residências: Pavuna - 40.928; Irajá - 40.582;
Penha - 27.538; Olaria - 23.715; Brás de Pina - 22.367; e de menor
número: Campo dos Afonsos – 761; Vista Alegre - 3.239; Parque Columbia - 3.580;
Campinho - 4.163 e Deodoro - 4.265. A média de habitantes por residência é de
2,14 pessoas.
Vigente em 2023 (Governo 2020-2024), para efeito de supervisão a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro agrupou os bairros da BI em 10 RA - Regiões Administrativas: X RA Ramos (Olaria e Ramos); XI RA Penha (Brás de Pina, Penha e Penha Circular); XIV RA Irajá (Colégio, Irajá, Vicente Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vista Alegre); XV RA Madureira (Bento Ribeiro, Campinho, Cascadura (1/3), Honório Gurgel, Madureira, Marechal Hermes, Oswaldo Cruz, Rocha Miranda, Turiaçu e Vaz Lobo); XVI RA Jacarepaguá (Vila Valqueire); XXII RA Anchieta (Anchieta, Guadalupe, Ricardo de Albuquerque); XXV RA Pavuna (Acari, Barros Filho, Coelho Neto, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna); XXX RA Maré (Maré (1/5); XXXI RA Vigário Geral (Cordovil, Jardim América, Parada de Lucas e Vigário Geral); e XXXIII RA Realengo (Campo dos Afonsos, Deodoro e Jardim Sulacap). A área da Baixada de Irajá está também inserida na Subprefeitura Norte.
Os bairros da BI são também referenciados, com base em sua posição geográfica para o centro da Cidade, como Zona Norte. Ainda, em referência aos eixos ferroviários e rodoviários de acessos, são ainda referenciados como subúrbios da Central - Linha Centro; da Linha Auxiliar - Ramal Belford Roxo; da Leopoldina - Ramal Caxias-Saracuruna; da Rio d'Ouro - Linha 2 Metrô; da Avenida Brasil e outros. Em passado a BI foi também referenciada como Freguesia Rural, Distrito Rural, Zona Rural e parte do Sertão Carioca.
A divisão político-administrativa da BI em bairros evoluiu de sucessivos desmembramentos do primitivo território eclesiastico-civil da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, estabelecido em 1644/1647, cerca de 50 anos após o início da ocupação rural das baixadas interiores ao Termo (espaço territorial) da então Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Inicialmente tinha ele por território toda a região à direita do rio Pavuna-Meriti entre as terras da Companhia de Jesus nos engenhos da Tapera de Inhaúma e os seus Campos de Santa Cruz. Deste território, com os desmembramentos das Freguesias de Nossa Senhora do Loreto de Jacarepaguá em 1665; da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande em 1673, e da Freguesia de São Tiago de Inhaúma em 1763, a Freguesia de Irajá passou ter por território toda a BI, tendo nela como núcleos pré urbanos os arrais da Freguesia, da Pedreira (antes da Encruzilhada e depois da Estação de Irajá), do Porto da Pavuna, da Penha e do Campinho. Destas primeiras centralidades localizadas em estradas oriunda de caminhos ‘peabiru’[3] indígenas, ao longo destes foram se formando novas localidades, referências de futuros bairros.
Proclamada a Republica e criado o Distrito Federal em 1892, na nova politica-administrativa deste, a Freguesia de Irajá passou a constituir o 10°, depois 20°, Distrito Municipal de Irajá, sendo em 1922 dele desmenbrado o 27° Distrito Municipal da Penha, em 1926 o 24° Distrito Municipal de Madureira, e parte para a constituição do Distrito Municipal de Realengo. Nos anos 1950, do Distrito Municipal da Penha foi desmembrado o Distrito Municipal de Ramos.
As espacialidades e particularidades atuais dos bairros da BI, por seus núcleos de evolução, serão mais adiante comentados nos fascículos sobre os bairros da Grande Irajá, Grande Pavuna, Grande Campinho e Grande Penha, proximos “Capítulos de História da Baixada de Irajá”.
- <> -
Irajá
já existia como centralidade muito antes das ferrovias e das reformas urbanas
na Cidade do Rio de Janeiro:
1711 – “Roteiro do caminho novo da cidade do Rio de Janeiro
para as Minas / Partindo da cidade do Rio de Janeiro por terra com gente carregada, e marchando a
paulista, a primeira jornada vai a Irajá [...]”
- Citação de ANTONIL Andre João em Cultura e Opulência do Brasil Por
Suas Drogas e Minas.
1816
- "De Inhaúma fomos dormir em
Irajá, outra parochia ainda mais importante, pois que em raio perto de duas
léguas, compreende uma população de cerca de quatro mil e seiscentos
comungantes e trezentos c cincoenta fogos.
[...] – Citação de SAINT-HILAIRE,
Auguste em Viagens pelas Províncias de Rio de Janeiro e
Minas Gerais.
[1] O movimento municipalista que pleiteou a criação de municípios no Estado da Guanabara é abaixo detalhado, no capítulo Marcos HIistóricos da Baixada de Irajá.
[2] Erro histórico é o topônimo Vicente de Carvalho atribuído ao bairro, estação de Metrô e vias da Baixada de Irajá , em atribuição ao homônimo poeta santista (São Paulo) que nenhuma relação local possui, senão busto indevidamente ali implantado. Em correção também histórica ao fazendeiro que cedeu terras a passagem da Estrada Ferro Rio d’Ouro, e homenageado com denominação de estação, em todo Capítulos de História da Baixada de Irajá, esses serão citados como Vicente Carvalho, sem o “de”. (Vide citações de Vieira Fazenda em artigos diversos em revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB).
[3] Peabiru, no sentido de ser “por onde se anda para”, era a denominação dada pelos indígenas aos caminhos / trilhas por eles aberto entre as suas aldeias/tabas e lugares de importância. Tapera era a referência indígena as aldeias/tabas abandonadas ou destruídas.
[4] Na ausência total de fonte documental, quer seja em portugues ou tupi, que identifiquem os primitivos caminhos indígenas abertos no território de abrangência do presente trabalho, para ser possível eles serem referenciados, o autor, em suas pesquisas, na medida que geograficamente identificou seus pontos de inicio, extensão de percursos e destino, considerando o vocábulo tupi-guarani "peabiru" (nota acima)”, a eles atribuiu denominações de mesmo idioma relacionadas às localidades de seus inícios, destino ou percurso.
[5] A demarcação dos distritos administrativos da Prefeitura do Distrito Federal na Baixada de Irajá, inconsistentes em diversas documentações obtidas, são apresentadas no mapa de forma aproximada, tendo por referências anotações do autor obtidas em 1961, quando das negociações políticas dos limites de municípios propostos ao Estado da Guanabara, campanha municipalista da qual participou.
MARCOS HISTÓRICOS DA BAIXADA DE IRAJÁ
Em 450 anos de conhecida história, a BI possui, por fatos, eventos, organizações e edificações, relevantes marcos. Na atualidade muitos deles foram apagados pela expansão urbana, por extinções, destruições, e esquecimentos, e em grande conta, muitos pela desatenção do poder público e do preconceito ‘suburbano’, destacado pelo geólogo Nelson da Nobrega Fernandes em seu trabalho “O Rapto Ideológico da Categoria Subúrbio”. Alguns destes, nos núcleos bases do seu desenvolvimento, são destaques relevantes.
Na Freguesia de Irajá, em simbologia a
ocupação colonial dos atualmente ‘suburbios’, está presente a Igreja de Nossa
Senhora da Apresentação, originária de capela, sua atual nave, de pedra e cal
construída em 1613. Em estilo barroco jesuítico, em 1644 tornou-se Matriz da
terceira Freguesia da cidade do Rio de Janeiro, e dela a sua primeira rural.
Decana e raiz de todas as atuais paróquias católicas a norte e oeste da cidade,
tombada ao Patrimônio Histórico, demolidas as precedentes de São Sebastião no
arrasado Morro do Castelo, e a primitiva de N. S. da Candelária (a atual
é substituta), é ela a mais antiga Igreja Matriz da Cidade. São destaques
ainda o conhecido Cemitério de Irajá, originário da Irmandade do Santíssimo
Sacramento desta Igreja, aberto em cerca 1700; e a Praça N. S. Apresentação, onde
em cerca de 1625 já existia negociação de açúcar.
Na Estação de Irajá, primitivo ponto de jornada do Arraial da
Encruzilhada e Parada Pedreira, decorrente da necessidade de defesa da
retaguarda da cidade observada nas invasões francesas de 1710-1711, sobre a
colina no interior da atual sede da XIV RA, existiu, de 1715 a 1825, a
fortificação Bateria de Irajá, com dois canhões em murrada de taipa
e faxina. Destruída em cerca de 1878 por extração de pedra para as obras do
Sistema de Abastecimento de Água da Cidade, até 1965 dela restavam casas matas
de pedra e os seus dois canhões, largados ao chão sem seus reparos, que de
forma desconhecida desapareceram. Atualmente, sobre seus últimos
vestígios, está nela instalado um grupo religioso evangélico dando ali a
denominação de “Monte Irajá - Escada De Jacó”.
Construído
em 1879 o Sistema Rio d’Ouro de Abastecimento de Água, suas adutora de ferro
fundido, tubos de 80 cm de fabricação inglesa, passaram na Estação pelo
corredor então chamado do Encanamento[1], onde também foram instaladas caixas de
pedra com válvulas de pressão. Estas adutoras foram substituídas em 1975 por
tubos de aço, constituindo o denominado Sistema Acari, sendo na passagem pela
Estação de Irajá enterradas ao meio do corredor. Deste primitivo sistema de
adutora, na hoje urbana Rua do Encanamento, restam caixas de pedras e
tubulações, infelizmente, por serem de cunho federal, ainda não protegidos
patrimonialmente pelo IPHAN.
Também
em 1878, passando pela Estação de Irajá, foi construída a Estrada de Ferro Rio
d’Ouro, sendo ali instalada a sua “Parada Pedreira”, plataforma
de embarque de materiais, principalmente pedra de cantaria, para as
obras do citado Sistema Rio d’Ouro de Abastecimento de
Água. Após diversas evoluções, em 1929 essa plataforma foi
substituída por prédio, já então como Estação de Irajá. Desativada a EF
Rio d’Ouro, em cerca de 1976, o prédio da estação foi demolido, para, em
1981-1998, ali passando a Linha 2 do Metrô Rio, ser pouco antes dela,
aberta a atual estação metropolitana de Irajá..
Na região de Campinho, local do primitivo ponto de jornada e
Arraial do Campinho no Caminho dos Jesuítas, depois Estrada Real de Santa
Cruz, à margem desta, por ordem do Imperador D. Pedro I, em 1821 foi erguido o
Forte Nossa Senhora da Glória, fortificação de nove canhões em defesa da
retaguarda de sua Corte. Em 1831 desarmado como fortificação, em 1852
suas instalações passaram a constituir o Laboratório Pirotécnico do
Exército, que nelas permaneceu até 1902. Passando a abrigar quarteis militares
do Exército, sediou sucessivamente unidades como o Regimento Moto Mecanizado; o
1° Grupo de Artilharia de Dorso; o Núcleo da Companhia de
Comunicações da Divisão Blindada; e em 1972 o 15° RCMec – Regimento de
Cavalaria Mecanizada, esse em 2000 transferido para a Vila Militar.
´Tendo anteriormente sido destes quartéis desmembrados os terrenos que, em
1924, foi instalada a estação de Bombeiros de Campinho, atual 8° Grupamento de
Bombeiros Militar, em 2005 toda área do antigo forte foi permutada pelo
Exército com empresa imobiliária, que vendeu parte à construção de um
supermercado. Em 2008, frente a proposição de tombamento de toda área
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN,
em acordo celebrado com a comunidade representada por associações comerciais, a
empresa se comprometeu a preservação de 20% desta, e a sua passagem a Prefeitura
da Cidade do Rio de Janeiro, o que até o momento não ocorreu frente a embargos
jurídicos ao acordo. Em 2007 o IPHAN realizou pesquisas
arqueológicas na área, encontrando vários elementos do antigo forte. Em
2020, liberada pelo Governo Federal 2018-2023 e financiada pela Caixa
Econômica, em grande área para Rua Maria Lopes, onde antes era hotel de
trânsito e apartamentos residenciais de militares, a empresa Tenda construiu os
condomínios residenciais Recanto das Flores I e II, já totalmente ocupados.
Ao lado do antigo forte ainda se encontra a Igreja de N. S.
da Conceição, originária de antigo oratório do século XVIII, de mesmo
oráculo, servindo as orações de tropeiros e carroceiros que pousavam no
Campinho. Incendiado o primeiro templo em cerca de 1860, foi ele reconstruído pelo fazendeiro Domingos Lopes, que aos seus fundos
também restaurou antigo cemitério, área ainda hoje sem edificações.
Sendo novamente incendiado vinte anos após, foi novamente restaurado por
custeio do Imperador D. Pedro II, do qual em seu interior guarda ainda o Brasão Imperial. Mais
adiante, no alargado do Campinho, existiu o prédio em sobrado da hospedaria em que nos anos finais
do século XVIII, passando em serviço de guarda as comitivas de transporte de ouro, por
várias vezes nela se hospedou o Alferes Joaquim da Silva Xavier, o
Tiadentes. Ainda existente bem conservado até os anos 1940, totalmente
descaracterizados seus vestígios em um
posto de gasolina, desapareceram quando este foi demolifo para a passagem do
corredor BRT Transcarioca e a construção de seu Mergulhão Clara Nunes,
obras que por suas características, quase
nada conserva do Largo do Campinho.
Na
região da Penha, onde na chamada Fazenda Grande formou-se o quarto arraial da
BI, sobre grande rochedo presente está a Igreja de Nossa Senhora da Penha,
atualmente Basílica Menor, e o seu acesso por magnífica escadaria de
degraus talhados em rocha. Ela é originária de capela de taipa e faxina
em louvor a N. S. do Rosário, erguida em 1635 pelo cristão-novo Baltazar
de Abreu Cardoso, em seu partido de cana nas terras da Fazenda Grande e Engenho
de N. S. da Ajuda, do também cristão-novo Jorge de Souza Coutinho, tendo por motivação reunir
em seu entorno os senhores de engenhos, partideiros e familiares em festejos
pelo fim da colheita e produção de açúcar anual [2], embora a tradição católica apresente por motivação ter sido
em graça de milagre ao livramento de morte do seu construtor, no afastamento de
uma cobra venenosa. Em 1728, com a doação, por parte dos
herdeiros do capitão Baltazar de Abreu Cardoso, das terras do
entorno do penedo, foi criada a Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França
do Irajá, e por ação desta, o topo do penedo foi aplainado e montada longa
escadaria de madeira, sendo sobre ele construído o primeiro templo igreja, essa
ainda em orago de N. S. do Rosário representado a da Penha de França, com
frente para a escadaria.
Em 1818-1819, decorrente da promessa de uma devota Maria Barbosa, substituindo a de madeira, foi talhada a escadaria de pedra, e em 1872, já tendendo a ruína a primeira, foi construída nova igreja, sem torre, com frente para o mar e pátio expandido sobre a rocha. Em sucessivas evoluções, no pátio foi aberto um nível mais baixo e sob o mais alto aberta uma catacumba. Em 1890 a Igreja já possuía uma torre. Em nova evolução, em 1903, já então muito conhecida como Igreja da Penha, chegou a sua volumetria atual em estilo Eclético, duas torres com relógios, pátio gradeado e escadaria retificada e alargada. Em 1941, em marco da abertura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), no local da primitiva capela de 1635, foi erguido um grande crucifixo com imagem de Cristo em bronze, que atualmente, vandalizado sem a imagem e placa comemorativa, se encontra em estado de abandono. Associado a Igreja no rochedo, originaria da motivação a sua criação no século XVII, a chamada Festa da Penha, de cerca de 1850 ao final da década de 1970, foi um dos mais movimentados eventos populares da Cidade do Rio de Janeiro.
Ainda na Penha, durante cerca de 70 anos foi destaque o
parque industrial da S. A. Cortume Carioca
[3]. Originado de um pequeno curtume do
final do Século XIX associado ao matadouro próximo ao Porto de Maria Angu,
fundado em 11 de junho de 1920, na década de 1930 foi o maior parque industrial
da América do Sul, e nas décadas de 1940 a 1970 dominava 70% do mercado de
couro do Brasil, que em grande quantidade processado em sapatos era exportando.
O Cortume Carioca, com a sua unidade Carioca Química, em quatro quarteirões
ocupava 2.700 m², cercados de fileiras de palmeiras imperiais. Nos anos
seguintes, vendendo 780 m² de seus terrenos, grandes incêndios na unidade
química ameaçando sua periferia, questões com seus entornos por mau cheiro,
poluição ambiental, e a não modernização dos seus sistemas de produção e
equipamentos, perdendo aceleradamente seu mercado, o Cortume Carioca
gradativamente passou ao processo de falência. Em 1990 encerrou suas
atividades deixando abandonado todo o parque industrial, que após a sua
definitiva falência em 1998, na década de 2000 teve seus prédios demolidos para
a construção de condomínios residenciais e templos religiosos, dele restando
até o momento desta publicação, na Rua Quito, suas palmeiras, o seu prédio
administrativo, e na Rua Couto, esperando ação de tombamento histórico, o
terreno de 345 m² de suas primeiras instalações com a sua chaminé fabril,
construção por Lei imune a demolição.
Marco comercial
da BI e polo inicial do desenvolvimento mercantil do atual bairro a quem
consolidou o nome, o Mercado Municipal de Madureira teve por origem a feira de
produtos hortifrutigranjeiros e cereais formada, a partir de 1890, junto aos
armazéns da Estação Inharajá (depois Magno, atual Mercadão), da Estrada de
Ferro Melhoramentos do Brasil (depois Linha Auxiliar, atual Ramal de Belford
Roxo), que a partir 1910 passou a receber grande volume de produtos de
lavradores com hortas no Corredor de Torres de Transmissão Elétrica da Light, este paralelo a essa ferrovia. Com a grande movimentação de mercadoria
passantes sem créditos municipais, em 1914 o Prefeito Bento Ribeiro estabeleceu
tornar a feira livre em Mercado Municipal, inicialmente alamedas em chão de
terra a céu aberto e demarcação de box, situadas à margem da ferrovia e da
então Estrada Marechal Rangel, atual Av. Ministro Edgar Romero. Em 1916,
por ação do político local e intendente Manoel Machado, recebendo alguns boxes
cobertos, o mercado foi transferido para a margem esquerda da ferrovia, frente
ao largo de Madureira, local onde permaneceu até a sua extinção. Em
1929 nele foi construído um pavilhão central, sendo em 1939 ampliado com maior
número de boxes, quando diversificando amplamente as mercadorias em
comercialização varejista e atacado, em interação de exportação e
importação com o Mercado Municipal da Praça XV e Comerciantes da Rua Acre,
tornou-se o maior distribuidor de mercadorias das zonas norte e oeste e
hortifrutigranjeiro para a Zona Sul.
Recebendo em 1948 um pavilhão
administrativo comercial em seu pórtico, em 1959, ameaçado de demolição por
obras urbanas em Madureira, seus negociantes e lavradores se transferiram ao
por eles financiado Entreposto Mercado do Rio de Janeiro – Mercadão de Madureira.
Extinto como Mercado Municipal em 1964, suas instalações desde 1967 abrigam a
sede e quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano. Inaugurado
em 1959, como continuidade privada do Mercado Municipal, o Mercadão de
Madureira, reconstruído depois de violento incêndio em 2000, com 550 lojas de
diversificado comércio, atualmente registra um movimento médio diário 80.000
mil consumidores, em ambiente fechado com circulação ecologica de ar e
aproveitamento hidráulico de chuvas.
Marco
mais recente da BI e de seus bairros ao longo do Ramal Ferroviário Belford
Roxo, o Parque Madureira, espaço municipal de lazer, esporte e cultura, se
expande por 4 km pelos bairros de Madureira, Turiassu, Rocha Miranda,
Honório Gurgel e Guadalupe-Barros Filho. Teve por objeto o aproveitamento de
grande faixa de terreno de 100 m de largura e cerca 6 km de extensão do
Corredor de Torres e Linhas Transmissão Elétrica de concessão a empresa Light,
que por modernização e compactação do sistema, as devolveu ao Governo Federal,
que as repassou ao domínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
Este
Corredor de Torres e Linhas de Transmissão Elétrica, aberto em 1910 pela então
Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, para fornecimento de energia
elétrica de sua hidroelétrica Usina de Fontes ao serviço de força e luz
do Distrito Federal, se extende da cidade do Pirai ao atual bairro do
Catumbi na subestação Frei Caneca. Em sua passagem pela BI, de Pavuna a
Cascadura, em terrenos federais de 150 m de largura onde não poderia haver
construções fixas, o governo concedeu graciosamente em comodato cerca de 150
lotes a migrantes portugueses lavradores, em obrigação de lavouras de
hortifrutigranjeiros. A partir de então, com as altas produções
obtidas, estas encaminhadas a comercialização junto a estação de Magno, como
acima já observado, muito influíram, na criação do Mercado Municipal.
Proposto
em 1998, quando a produção agrícola no redor já decaia e a Light
anunciava seu programa de modernização e compactação do
sistema de transmissão, o Parque Madureira, contando com diversos equipamentos
públicos, como arenas de espetáculos, teatros, unidade de saúde, centros de
tecnologias, pistas de skate e piscinas pública, foi aberto em 2012 no trecho
Madureira – Rocha Miranda e, com obras paralisada de 2018 a
2020, em 2024 chegou ao bairro de Guadalupe,
sendo previsto, vencendo a travessia do Rio Acari, alcançar o limite
do município na Pavuna.
Marco de mobilidade urbana, além de quatro sistemas ferroviários, em mesmo percurso do antigo sistema de bondes extinto em 1965, a BI conta com os sistemas de ônibus articulados em via segregada Corredor BRT Transcarioca, com 21 estações, servindo aos bairros de Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente Carvalho, Vila Kosmo, Vila da Penha, Penha Circular, Penha, Olaria, Ramos e Marre; e o Corredor BRT Transbrasil, com 12 estações servindo aos bairros de Deodoro, Guadalupe, Barros Filho, Coelho Neto, Irajá, Parada de Lucas, Cordovil, Penha Circular, Penha, Olaria e Ramos.
Não realizado, seria ainda marco histórico a proposição de emancipação político administrativa da BI, com a criação dos municípios de Irajá, Madureira, Penha e Ramos, ou um único município com a denominação de Madureira ou Irajá. Consequente da transferência do Distrito Federal para Brasília, criado em 1960 o Estado da Guanabara, por igualdade aos demais Estados, deveria ser formado por municípios, emancipação prevista na Constituição de 1946 a distritos administrativos. Sendo o antigo município do Distrito Federal dividido em Distritos, destes os que na época possuíam grandes populações e capacidade tributária, iniciaram campanhas municipalistas. Na BI, os grupos políticos dos distritos em seu território apresentaram à Assembleia Constituinte do Estado, a emancipação dos municípios de Irajá, maior parque industrial da época, Madureira, segunda maior receita comercial do DF, Penha e Ramos, com grandes receitas comerciais e industriais. Por forte articulação política do então Governador do Estado contra as divisões municipais, a Assembleia Constituinte estabeleceu a realização de um plebiscito sobre os futuros municípios.[4] Realizado em 21 de abril de 1963, com quase nenhuma divulgação as populações dos propostos municipios e alta abstenção, realizou-se o presbicito dando vitória a não divisão. Frustada a campanha municipalista, não possuindo bairros brazões de armas oficiais, a titulo de compensação os brasões de armas projetados aos propostos, passaram a ilustrar paredes das criadas Regiões Administrativas a eles correspondentes, onde ainda poucos se conservam.
Brasões de Armas dos propostos municípios de Irajá. Madureira, Penha e Ramos ainda presentes respectivamente nas sedes das Regiões Administrativas XIV, XV, X e XI da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. = Acervo Ronaldo Luiz Martins
Proxima postagem:
Fasciculo 2 “GEOLOGIA DA BAIXADA DE IRAJÁ”
[1] A Rua do
Encanamento, como sempre foi conhecida e oficialmente reconhecida pela
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, erradamente é apresentada em diversos
mapas, inclusive em Google Earth, como Rua do Encantamento, sendo essa a
denominação da rua lateral a praça na esquina da Rua Barroso
Pereira. A denominação de Encantamento surge por uma placa nela colocada
por moradores locais que subjetivamente procuram esconder a fama passada de rua
de namoros avançados, encontros clandestinos, suicídios e assassinatos.
A praça acima citada também a se encontra errada em mapas como 27 de
Agosto, sendo essa a denominação da praça na Rua Marquês de Aracati, que nestes
mesmos mapas e citada como Praça Mato Grosso, denominação nunca antes existente
[2] Ocorrentes na BI nos meses de novembro dos séculos XVII e XVIII, os festejos pelos fins de colheita e produção de açúcar que ocorriam de abril a outubro, em sua maioria promovidas por cristãos novos, possivelmente tinham correspondência a tradição judaica da Festa das Cabanas (Sucot em hebraico), sendo tambem aos cristão velhos referentes as festas portuguesas de fim das colheitas de uva, azeitona, e outros gêneros. Em ambas tradições era representativa a Fé em agradecimento a Deus pelos bons frutos da terra obtidos.
[[3] O autor em 1982 foi gerente do Centro de Processamento de Dados da S. A. Cortume Carioca.
MUNICIPIO / CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Área
Km² |
População |
Pop
/ Km² |
Residências |
Pop
/ Resid. |
|
Município |
1.200,329 |
6.211.223 |
5.175 |
540.313 |
2,91 |
Área urbana |
517,612 |
9.699 |
2,13 |
BAIXADA DE IRAJÁ
Área
Km² |
População |
Pop
/ Km² |
Residências |
Pop
/ Resid |
|
Geográfica |
143 |
1.230.328 |
8.604 |
575.862 |
2,13 |
Histórica |
123 |
1.154.088 |
9.383 |
540.313 |
2,14 |
BAIRROS DA BAIXADA DE IRAJÁ HISTÓRICA
Bairro |
Área
Km² |
População |
Pop
/ Km² |
Residências |
Pop
/ Resid |
Acari |
1,61 |
29.673 |
18.430 |
11.409 |
2,60 |
Anchieta |
4,36 |
52.095 |
11.948 |
21.905 |
2,38 |
Barros Filho |
1,73 |
20.444 |
11.8,17 |
8.630 |
2,37 |
Bento Ribeiro |
3,00 |
37.306 |
12.435 |
17.937 |
2,08 |
Brás de Pina |
3,53 |
45.048 |
12.761 |
22.367 |
2,01 |
Campinho |
0,99 |
8.579 |
8.579 |
4.163 |
2,06 |
Campo dos Afonsos |
3,26 |
2.106 |
6.460 |
761 |
2,77 |
Coelho Neto |
2,52 |
26.780 |
10.627 |
12.671 |
2,11 |
Colégio |
2,27 |
26.840 |
11.824 |
12.014 |
2,23 |
Cordovil |
3,86 |
34.668 |
8.981 |
16.720 |
2,07 |
Costa Barros |
1,82 |
26.272 |
14.435 |
11.010 |
2,39 |
Deodoro |
4,65 |
10.402 |
2.237 |
4.265 |
2,44 |
Guadalupe |
3,83 |
41.088 |
10.728 |
18.596 |
2,21 |
Honório Gurgel |
1,38 |
18.213 |
13.198 |
8.343 |
2,18 |
Irajá |
7,50 |
85.906 |
11.454 |
40.582 |
2,12 |
Jardim América |
1,98 |
20.687 |
10.448 |
9.988 |
2,07 |
Jardim Sulacap |
7,89 |
14.396 |
1.825 |
6.389 |
2,25 |
Madureira |
3,80 |
39.712 |
10.451 |
19.948 |
1,99 |
Marechal Hermes |
3,90 |
41.507 |
10.643 |
19.311 |
2,15 |
Olaria |
3,70 |
51.222 |
13.844 |
23.715 |
2,16 |
Oswaldo Cruz |
2,10 |
29.995 |
14.283 |
14.207 |
2,11 |
Parada de Lucas |
2,20 |
22.069 |
10.0,31 |
11.229 |
1,97 |
Parque Anchieta |
3,92 |
21.833 |
5.570 |
10.084 |
2,17 |
Parque Columbia |
1,52 |
8.222 |
5.409 |
3.580 |
2,30 |
Pavuna |
8,33 |
95.337 |
11.445 |
40.928 |
2,33 |
Penha |
5,83 |
58.516 |
10.037 |
27.538 |
2,12 |
Penha Circular |
4,64 |
36.725 |
7.915 |
18.238 |
2,01 |
Ramos |
2,80 |
34.453 |
12.305 |
16.107 |
2,14 |
Ricardo de
Albuquerque |
2,12 |
27.704 |
13.068 |
11.134 |
2,49 |
Rocha Miranda |
2,89 |
36.360 |
12.581 |
17.188 |
2,12 |
Turiacu |
1,26 |
11.613 |
9.217 |
5.539 |
2,10 |
Vaz Lobo |
1,10 |
10.995 |
9.995 |
5.597 |
1,96 |
Vicente Carvalho |
1,84 |
21.300 |
11.576 |
9.996 |
2,13 |
Viqário Geral |
3,40 |
34.202 |
10.059 |
15.763 |
2,17 |
Vila da Penha |
1,44 |
21.950 |
15.243 |
10.614 |
2,07 |
Vila Kosmos |
1,52 |
14.878 |
9.788 |
6.517 |
2,28 |
Vila Valqueire |
4,24 |
34.024 |
80,25 |
16.033 |
2,12 |
Vista Alegre |
0,52 |
7.059 |
135,75 |
3.239 |
2,18 |
Parte de Cascadura |
0,95 |
8.965 |
94,37 |
4.614 |
1,94 |
Parte de Maré |
0,75 |
14.617 |
194,89 |
12.853 |
1,14 |