quarta-feira, 7 de maio de 2025

O SERTÃO DA PENHA NO SÉCULO XVII

 Ronaldo Luiz Martins

A PENHA

                Quarto macro núcleo do desenvolvimento ocupacional pós indígenas da Baixada de Irajá, seguinte aos de Irajá, Pavuna e Campinho,  a região da Penha, no século XVII identificda como “Sertão da Penha”, atualmente centrada pelo bairro que lhe é homônimo, tem por sua mais destacada referência o rochedo de 112 metros de altitude,  encimado pela atual Basílica Menor de Nossa Senhora da Penha. Esta elevação isolada do Maciço da Misericórdia, marco geográfico pela sua ampla visualização da Baía de Guanabara, foi uma das principais referências visuais dos portugueses que, após a fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, ocuparam a baixada geográfica então conhecida por Eirajá, depois Irajá na corruptela portuguesa. Como as elevações rochosas, no falar dos portugueses. eram nominadas de penhas, este rochedo passou a ser conhecido como a Penha de Irajá. 

Rochedo Penha no Século XVII 
Montagem digital de Ronaldo Luiz Martins 

Pressuposta visão no século XVII do rochedo de 112 metros de altitude, decorrente de afloramento rochoso descartado da então Serra Chorona, atual Misericórdia, sobre o qual atualmente se encontra construída a popular Igreja da Penha. Amplamente visível por navegantes pela Baía de Guanabara, tornou-se destacado marco de sua região. Como os portugueses se referiam a rochedos como penhas, tornou-se simplesmente conhecido com Penha, dando  toponímia ao território em seu entorno, hoje bairro da Penha e no Século XVII a sua região ainda agreste como Sertão da Penha.


ANTECEDENTES

          Como grande parte dos portugueses que dos primórdios do século XVII a meados do século XVIII ocuparam a Baixada de Irajá, os primeiros da região da Penha tinham características sociais que, em certos aspectos, os diferencivam dos portugueses de origem. Eram cristaos novos, descendentes de judeus convertidos à força ao cristiainismo. 

                A existência dos chamados cristãos novos teve origem em 1496, quando o então  Rei de Portugal Dom Manoel, atendendo as exigências do Rei Fernando de Espanha, como  condição  para casar-se com sua filha Isabel, assinou um decreto de expulsão dos judeus do reino, dando-lhes a opção de conversão ao cristianismo, como acontecera na Espanha. Em reação a esse decreto, houve a tendência de grande êxodo de judeus do reino, por não pretender se converter ao cristianismo, levando eles grandes capitais para outros países.  Alertado por sua Corte que  uma  saída tão expressiva de judeus prejudicaria a economia portuguesa, preocupado, o rei Dom Manuel, em abril de 1497, ordenou que nenhum judeu saísse do Reino, obrigando todos a se converterem ao catolicismo.  A própria ordem classificou as pessoas assim convertidas como  cristão novo, em contraposição aos católicos de origem que passaram a ser distinguidos como cristão velho ou critão de sangue. Para fiscalizar a fidelidade católica dos convertidos e punir seus desvios, em 1515, foi estabelecido em Portugal o Tribunal da  Inquisição, sucedendo-se, sempre no interesse do Reino,  períodos de controlada liberdade e períodos de perseguição religiosa. 

                 Atendendo as imposições à fé catolica e conservando ritos e credos do judaismos, as gerações seguintes dos primeiro convertidos foram estabelecendo uma nova forma de crença, nem totalmente catolica, nem totalmente judaica,  então conhecida como ’Cliptojudaismo”, a religião do “judeu escondido”.  Assim, já na primeira metade do século XVII, os cristãos novos não eram bem aceitos pelos judeus e pelos cristão velhos, destes últimos segregados e perseguidos, e por Leis proibidos de exercerem cargos relevantes ao Reino.  Mas conservando a tradição comercial, empreendedora e de riquezas ancestrais, os cristão novos tinham muito peso económico em Portugal, onde eram agentes de grande porte em comércio exterior e nas colônias investidores de grandes negócios, bem como em atividades superiores, como médicos e engenheiros, tornando-se eles importantes a segurança existencial do Reino. 

                Em 1580, após a morte de D. Sebastião, rei sem herdeiros do trono, Portugal foi incorporado à Coroa Espanhola, conservando grande parte de sua autonomia em seu território e em suas colônias, como o Brasil, mas passando à condição de Vice-reino. Desde então o ortodoxismo espanhol quanto aos judeus e cristãos novos influenciava  o Tribunal da Inquisição a persegui-los, conduzindo estes a uma nova onda de fuga para outros Reinos.  Em cerca de 1600, o Vice-rei de Portugal, como que a prever a Restauração do Reino, que ocorreu em 1 de dezembro de 1640, observando que este exodus traria consequências econômica ao País, promoveu a migração de cristãos novos e seus capitais para as colônias, orientado no Brasil que as Capitanias doassem a eles sesmarias para implantação de engenhos e produção  de açúcar, então principal produto exportador do Reino.   

                Nesta proposição, no início do século XVII, o governo da Capitania do Rio de Janeiro, visando sua maior capacidade econômica, promoveu, em  seu território, ampla doação de sesmarias de terra para implantação de cultura de cana e engenhos de açúcar.  Diferentemente das primeiras grandes sesmarias doadas a participantes da conquista territorial e organizações religiosas, como os Jesuítas, essas novas doações visaram empreendedores de grande capital, e atendendo a diretiva do Vice-rei, em grande parte a cristãos novos.

                Destas novas doações, na Baixada de Irajá são pelo menos reconhecidas 15 feitas a cristãos novos, sendo destaque a de 1610 – 1613, para Gaspar da Costa, fundador do Engenho de N. S. da Apresentação de Irajá,  pai do padre do mesmo nome,  1º vigário da Freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, com sede Matriz na capela do mesmo orago por ele construída em 1613. 

     Matriz  da antiga Freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá  
Igreja de N. S. da Apresentação de Irajá - Em destaque a primitiva capela de 1613 
Montagem Ronaldo L. Martins em foto Rio Ilustrado 1937

A Freguesia de N. S. da Apresentação, foi a base do sistema administrativo eclesiastico e civil, sobre o qual, do século XVII a XIX, se desenvolveu a sociedade da Baixada de Irajá, da qual é parte o antes chamado Sertão da Penha.  Sua Matriz, também da atual paróquia, é a igreja de igual orago, evoluída de capela de pedra e cal construída, em 1613, por Gaspar da Costa, senhor de engenho e pai do padre de igual nome que dela foi seu 1º vigario. 

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SERTÃO DA PENHA

        Na área dos atuais bairros da Penha, Penha Circular, Olaria,  Ramos e partes de Vila da Penha, Vila Kosmo e Brás de Pina, nos primeiros anos da ocupação, na região então conhecida  como Sertão da Penha, foram concedidas duas sesmarias, estas antes partes da sesmaria doada, em 14 de julho de 1568,  a Antônio de França [1], que nela instalou  sua Fazenda Grande e o Engenho de N. S. da Ajuda, a qual por morte deste  e a não plena ocupação em 30 anos, foram retornadas ao Rei e pelo governador redistribuídas.

                                                                                     O “Sertão da Penha” no Século XVII  
                                                                                        Montagem Ronaldo L. Martins sobre imagem Google Earth 

Para os primeiros ocupantes da Baixada de Irajá, a região mais ao sul do Rio Irajá era considerada como o Sertão da Penha, supostamente representada pela área em verde, ocupando os atuais bairros da Penha, Olaria e parcialmente de Vila Kosmo, Vila da Penha, Brás de Pinha, Penha Circular e Ramos.  Em azul os rios Irajá Quitungo,  Arapogi, Escorremão, Gruçaí,  Nunes e Ramos A linha  preta é o limite da Baixada de Irajá Histórica. 

A primeira foi doada a Jorge de Souza Coutinho [2], em 1612, pelo Governador Afonso de Albuquerque, sendo ela antes grande parte da pioneira sesmaria de Antônio de França de 1568, revertida à Coroa. Os herdeiros de Antônio de França mantiveram ativo o Engenho  de N. S. da Ajuda até cerca de 1597, quando não podendo mais dispor de recursos para a ocupação total  das terras herdadas, de acordo com a Lei de Sesmaria que determinava que isso ocorresse no prazo de 30 anos,  grande parte da  Fazenda Grande e seu engenho, seguindo as orientações do reino, foram doadas em nova sesmaria a Jorge de Souza Coutinho, cristão novo de 35 anos e de grande cabedal, mantendo a produção de águardente, na época produto  essencial na obtenção de negros escravizados para o Comércio Atlantico, entre as cidades do Rio de Janeiro e Buenos Aires, na atual Argentina. 

A sesmaria da Fazenda Grande, tinha sobre a anterior, a extensão de  cerca de 1.500 braças (3.300 m) para a costa de  Paraquanopã dos indígenas (litoral oeste da Baía de Guanabara), entre o estuário do Rio Irajá e Maria Angu, na colina onde é hoje  a Fazendinha da Penha, tendo cerca de 2.300 braças (5.060 m) para o sertão, limitada pela margem direita do Rio Irajá. Em 1642, por doação do governador Duarte Corrêa Vasqueanes, a ela foi anexada a fronteira Ilha de Saravatá, atualmente aterrada.[3] ​ Consta que em 1652, a Fazenda Grande já era propriedade dos cristãos novos Francisco de Souza Coutinho e seu irmão Ignacio, que a receberam por doação de seus pais Jorge de Souza Coutinho, que faleceria em 1662, e Maria de Galegos, dando início ao processo de repartição das suas terras.

No início do Século XIX, parte das terras da Fazenda Grande aparecem em propriedade de José Pereira Dias, que em 1813 vendeu a Amaro José Vieira a metade das mesmas.  Em 1890, quando foi construído o Ramal da Penha da Estrada de Ferro Rio d’Ouro, grande parte das terras da Fazenda Grande, onde ele passou, era propriedade do  Governo Federal da recente República.  
A segunda foi doada ao também cristão novo Balthazar de Abreu Cardoso [4], em 1613, pelo governador Afonso de Albuquerque. Pessoa de pouco cabedal, sua sesmaria, de menor extensão que outras para engenhos de açúcar, destinava-se a partido de plantação de cana para o engenho vizinho, produção de farinha e insumos para engenhos, como peças de olaria, madeira e lenha extraída de suas matas e mangues.  Em primeira  instância  demarcada em 600 braças (1.320 m), e posteriormente em 1.000 braças (2.200 m) de extensão, na costa de Paraquanopã dos indígenas (litoral oeste da Baía de Guanabara), do extremo das terras de Jorge de Souza Coutinho para o leste, próximo a Apicú nas bandas de Inhaúma, com 2.000 braças (4.400 m) para o sertão, entre a vizinha Fazenda Grande, da qual era desmembramento, a Serra Chorona (atual Misericórdia) e, após 1620, a sesmaria da família Soutto Mayor, para as bandas de Inhaúma.
Do Século  XVII ao XVIII, a segurança eventual dos sertões e  cidades da Colônia, era de responsabilidade dos senhores de terra, que as suas custas, filhos, agregados e escravizados, se organizavam nos chamados Terços de Ordenança, dando a si, herdeiros e afins, títulos de comando.  Francisco de Souza Coutinho e  Balthazar de Abreu Cardoso eram comandantes do Terço de Ordenança da região de Irajá, razão por que, nas referências à Penha, ficou conhecido o Capitão  Balthazar de Abreu Cardoso. 
Em desmembramento de território, para a leste do rochedo Penha, a faixa  de encosta de Serra Chorona foi doada, por Baltasar, a Santa Casa de Misericórdia, renomeando a mesma para Serra da Misericórdia, denominação que se estendeu a todo o maciço. Próximo ao litoral, foi implantado o Engenho de  N. S. do Rosário, parte de Pedro de Abreu Rangel, e de N. S. da Conceição, com a capela de orago a essa padroeira, parte de Ignácio Rangel Cardoso, ambos depois unicamente conhecidos como Engenho da Pedra.
Esta sesmaria, já então conhecida como Fazenda da Penha, permaneceria  pertencente à família Abreu Cardoso até a primeira metade do Século XVIII. 
Após a morte de  Balthazar de Abreu Cardoso em 1647, foi ele sucedido na posse da Fazenda da Penha pelo seus filhos, Pedro de Abreu Rangel, Ignácio Rangel Cardoso e Bartolomeu Abreu Cardoso, sendo este último coronel de Regimento de Ordenança que, em 1711,  comandou sua tropa na resistência à invasão da cidade.  Em  cerca de 1710-1720, os herdeiros de Balthazar de Abreu Cardoso, por serem cristãos novos, foram presos e processados pelo Santo Ofício de Lisboa, tendo todos os seus bens confiscados. Em consequência, as terras da Fazenda da Penha, repartidas, passaram a posse de outros proprietários, sendo a faixa de terra de entorno do rochedo Penha, repassada a formação da Venerada Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França, que tornou-se dela administradora, do rochedo e da capela sobre ele.  

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Em 1790, um incêndio destruiu a construção e o arquivo do Senado da Cidade, causando a perda de importantes documentos históricos sobre as doações e posses de terras nas zonas norte e oeste da Cidade do Rio de Janeiro, o que não permite mais seguramente se reconhecer as demarcações das sesmarias nelas doadas. Assim, a apresentação  abaixo é uma suposição baseada em fragmentos de relatos diversos, demarcando os possíveis limites de sesmarias no Sertão da Penha, na primeira metade do Século XVII.

Sesmarias Doadas no “Sertão na Penha” no Início no Século XVII 
Montagem Ronaldo Luiz Martins sobre imagem Google Earth 

Em branco a sesmaria original de Antônio de França de 1568, da qual foram desmembradas a seguintes. Em branco a sesmaria original de Antônio de França de 1568, da qual foram desmembradas a seguintes.  Em azul a sesmaria da Fazenda Grande doada, a Jorge de Souza Coutinho em 1612, tendo acima  a Ilha de Saravatá (*), mais tarde a ela incorporada. Em verde a sesmaria da Fazenda da Penha, doada a Balthazar de Abreu Cardoso em 1613.  
Principais rios da região em denominações atuais: 1 –  Rio das Pedras; 2 – Acari; 3 - Pavuna-Meriti; 4 – Irajá; 5 – Quitungo; 6 – Arapogi; 7 – Escorremão; 8 – Gruçaí; 9 – Nunes; 10 - Ramos.   
Caminhos indígenas na região, mais tarde estradas:  A – ‘Peabiru Yacare-upa-guá’  /  Estrada de Irajá;   B – ‘Peabiru Upaba-una’ / Estrada da Pavuna;   C- ‘Peabiru Api-e-cum’ – Estradas da Penha e do Engenho da Pedra.  
A linha em verde demarca os limites da Baixada de Irajá atual, e a marcação em vermelho é o local do rochedo da atual Igreja de N. S. da Penha.


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FAZENDA GRANDE 

        Os primeiros anos da ocupação territorial portuguesa do Sertão da Penha, foram de grandes investimentos de seus novos senhores de terras, particularmente de Jorge de Souza Coutinho, no desenvolvimento da Fazenda Grande e seu Engenho de N. S.  da Ajuda, antes de Antônio de França, que esteve quase abandonada por cerca de 10 anos.

          O processo de produção de açúcar de então, compreendia  a demarcação de várias glebas de terras, os chamados “partidos”, para após a derrubada de matas estabelecer o plantio de cana e, um ano após, obter a primeira colheita, seguindo  quatro ciclos de 12 meses  em nova colheita, para outra replantagem.  Colhida a cana, que seguia uma programação estabelecida pela administração do engenho que a processaria, era ela enviada em freixos embarcado em carros de bois,  ou amarrados a burros de carga em tropas. Para o envio de cana dos partidos para o engenho, foram abertas primitivas estradas, em grande  maioria sobre caminhos indígenas, que particularmente ao Sertão da Penha, foi feito sobre o Peabiru Api-e-cum, mais tarde Estrada da Penha, atuais Av. Brás de Pina, Rua Leopoldina Rego, Estrada do Engenho da Pedra e Rua Ouricurí.

Os engenhos  eram formados pela moenda, movida a tração animal ou roda d’água, que entre rolos, esmagando a cana, dela retirava o caldo. Este era remetido as "caldeiras", instalação de fornalha de tijolo aquecida a lenha, onde em tachos de cobre era fervido até a formação de caldo fino cristalizante (mel de cana), derramado em cones de  barro cozido (pão de açúcar) de cerca de 25 quilos. Os cones cheios eram então armazenados na chamada casa de “purga”, onde permaneciam por cerca de 20 dias dessorando e cristalizando com ajuda de camadas de barro unido, gerando nas partes mais largas do cone o açúcar branco e nas mais estreitas o mascavo.   Da purga, os cones pão de açúcar passavam ao “encaixota”, onde o açúcar era deles retirado, dividido em branco e mascavo, triturado e exposto para secagem ao tempo. Depois, o açúcar finalizado era embalado em grandes caixas de madeira nobre, vedadas por barro e forradas de folhagem larga, particularmente folha de bananeira, de 90 a 120 quilos de carga.  Hermeticamente fechadas por tampas de madeira e pregos, com a identificação do engenho e partido produtor, eram as caixas então em grandes carros de bois conduzidas a um porto fluvial ou marítimo, de onde, em canoas e faluas,  eram levadas ao porto da cidade, negociadas e embarcadas em navios para Portugal.  


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derrubada de Mata
. -  Plancha de Johann Moritz Rugendas -1832

Na abertura de área de “partidos” para o plantio de cana, mandioca, roças de alimentos e criação de animais, bem como na abertura de estradas carroçáveis e obtenção de lenha, durante o século XVII os primeiros proprietários de terras no Sertão da Penha, procederam a derrubada das matas locais, das quais extraíam madeiras de lei utilizadas em caixas de açúcar, edificações, móveis e exportação para a cidade e Portugal. Essas ações de derrubada de matas em alta escala, igualmente procedida por demais proprietários da  Baixada de Irajá, sistematicamente continuadas até décadas do século XX, se refletem nas muitas encostas descampadas e assentamento de favelas ao longo das vertentes do Maciço da Misericórdia.    





Canavial 
Percy Lau - Revista Brasileira de Geografia, IBGE



As terras ao entorno dos engenhos eram repartidas em glebas denominadas “partidos” que entregues a “partidistas”, pessoas de posses, que, em regime de propriedade ou foro, nelas formavam plantações - canaviais, para fornecerem a cana a ser moída pelos engenhos na produção de açúcar.   No período de abril a setembro, fora da época das grandes chuvas, no trabalho braçal de colheita, os canaviais, assim como os engenhos, movimentavam grande quantidade de mão-de-obra escrava indígena e africana.


Abertura de caminho indigena em estrada 
Autor desconhecido – Divulgado em Internet
  
Para o acesso aos engenhos e a vazão de suas produções, como também para permitir a comunicação entre eles e as centralidades comerciais e sociais, como a Igreja por exemplo, os antigos Peabiru indígenas da Baixada de Irajá foram sendo alargados em estradas para carros de transporte. Ao longo das estradas, pequenos comerciantes e prestadores de serviços instalaram tendas e choupanas que mais tarde foram transformadas em lojas e residências.

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        Nos primeiros anos de sua posse da Fazenda Grande, para alcançar a plena capacidade de produção de açúcar, Jorge de Souza Coutinho nela muito investiu.  Sua primeira ação deve ter sido a de contratar um “mestre de açucar”, pessoa de sua extrema confiança e detentor de amplo conhecimento do processo de produção de açúcar, que seria então seu executivo na gestão do engenho. Conceder a  terceiros, sob contrato de obrigação de atendimento ao seu engenho, glebas de terra para gestão de “partidos” de plantio de cana. Trazer para ela “mestres de oficio” em carpintaria, marcenaria, oleiro ceramista, ferreiros, latoeiro de cobre, construtores de carros e canoas, pessoas para cuidar de animais e cortar madeiras e lenhas. Abertura de caminhos em estrada, portos fluviais no Rio Irajá e marítimo em seu litoral na Baía de Guanabara, bem como comprar bois, burro, cavalos e escravizados para sustentação dos serviços pesados. Com tal movimento de pessoas com suas famílias, no entorno do engenho formou-se um pequeno arraial, que em futuro seria parte do primitivo Arraial da Penha de Irajá.   

Até cerca 1620,  avançando para além dos seus limites com o Rio Irajá, Jorge de Souza Coutinho  instalou o seu primeiro núcleo de ocupação econômica nos extremos oeste de sua Fazenda Grande, tendo por centralidade o primitivo Engenho de Nossa da Ajuda, fundado por Antônio de França, localizado em uma colina às margens de remanso do Rio Irajá e do ‘Peabiru Api-e-cum’ (trecho hoje da Av. Brás de Pina e divisão da antes Estrada da Penha), em região entre os atuais bairros de Vista Alegre, Vila da Penha e Brás de Pina, assumindo sua primeira sede na casa grande ali já existente[5]

Abrindo o caminho indigina Api-e-cum em estrada para tropa de burros e carros de boi até sua vizinha sesmaria, ao longo dela, para sul e norte, concedeu partidos de plantio de cana, glebas de produção de alimentos e tratos de animais.  Por essa estrada demandavam para o primitivo  engenho, a cana destes partidos, alimentos, animais, e importados da vizinha  Fazenda da Penha, cana, formas pão de açúcar e outros produtos de olaria, pedra, madeira e lenha.  Estabelecendo no remanso do Rio Irajá um porto fluvial, em canoas transportava  por  este rio, as caixas de açúcar produzidas para o porto na Baía de Guanabara,  formado  junto a primitiva foz do Rio Gruçaí, futuro Porto de Maria Angu, de onde eram transbordados em embarcações faluas em destino ao porto da Cidade. Por esta mesma rota, enviava também outros produtos e recebia mercadorias diversas para seu consumo. 
    
        Formando o arraial do engenho, servidores e  mestres de oficios para ele contratados e seus escravizados, restaurando e levantando novas edificações, ocuparam a tapera de Eirajá (aldeia Tupinambá  abandonada ou destruída,  origem da denominação Irajá da baixada, rio e atual bairro), utilizando sua área central como praça de serviços. Como já apresentado em nota, o local desta tapera possivelmente é o atual Largo do Bicão, no bairro de Vila da Penha. 

    O primitivo Engenho de N. S. da Ajuda, de instalações rústicas conhecidas como engenhocas, com moenda de dois rolos por tração animal, serviu a Jorge de Souza Coutinho como base do desenvolvimento econômico de suas terras.  Inicialmente, enquanto evolui na produção de açúcar, grande parte do caldo da cana moída foi destinado a produção de aguardente, que estava muito valorizada na obtenção de escravizados da África, para venda em Buenos Aires.  [6]

Neste início de produção, o engenho utilizava mão-de-obra de indígenas cativos, tendo cerca 40 escravizados, sendo nos partidos utilizados outros 30 mais, em grande parte mulheres indígenas, que por estrutura social de seu povo, eram mais adaptadas a  trabalhos de lavoura. Para atender as demandas nos período de produção, de abril a setembro, e de manejo do plantio, de novembro a março, o engenho e seus partidos faziam rodízio de escravizados. Devidos as dificuldades de reposição e ampliação de escravizados, após cerca de 1620, particularmente com a redução de trafico negreiro para o Rio da Prata, o engenho e seus partidos passaram a usar escravizados africanos, assim como os mestre de oficios passaram a treina-los em suas especialidades. 

Em cerca de 1630, com o Engenho de N. S. da Ajuda em degradação de estrutura e na sua maior capacidade de produção, reconhecendo que estava este fora da real área de sua Fazenda Grande,  Jorge de Souza Coutinho investiu na construção de novo engenho, que por referência adquirida, recebeu a mesma denominação do anterior abandonado.  Este novo Engenho de N. S. da Ajuda, estava localizado às margens do  Rio Gruçaí, próximo a colina do atual parque Fazendinha da Penha, em área vizinha às hoje ocupadas pela estação de tratamento de esgoto e do conjunto residencial do IAPI. 

Para este engenho, já então classificado como real, movido a roda d’água pelo caudal do rio vizinho, moeda de três rolos, dupla fornalha de caldeiras e amplas casas de purga e de encaixotar, derivando da estrada para a Penha, Coutinho abriu estrada, que em continuidade chegava a seu porto no litoral (Maria Angú), por onde mais fácil e rápido embarcava as caixas de açúcar para cidade, e por ele dela recebendo mercadorias. Ao seu longo concedeu novos partidos de cana, e construindo nova casa grande, está de  pedra e tijolo, na colina hoje Fazendinha da Penha, trouxe para mais abaixo dela o arraial de seus servidores e mestres de ofícios. Para além do engenho, contornando a casa grande, entre esta e o arraial, abriu via de acesso ao extremo da fazenda no litoral da Baía, formando outro porto marítimo. [7]
Após a  morte de Jorge de Souza Coutinho em 1668, que em 1662  já havia doado grande  parte de suas terras aos seus filhos Francisco e Ignácio de Souza Coutinho, seus herdeiros, sem perder a integridade familiar, entre si  dividiram a  Fazenda Grande em fazendas menores. Com a morte de seu irmão Ignácio, Francisco de Souza Coutinho permaneceu no controle da maior parte das terras e do Engenho de N. S. da Ajuda, continuando na produção de açúcar, enquantos os outros herdeiros se diversificaram em produções agropastoris, como possivelmente Manoel de Souza, que em faixa de área litorânea, no limite leste da fazenda original, estabeleceu criação de gado de tração e corte, tendo nela abatedouro e curtição, fornecendo a seus vizinhos carne e couro, também exportado-os por mar a fazendas engenhos mais distante e a cidade.  

Em cerca de 1720, sendo cristão novos de origem, as gerações herdeiras de Jorge de Souza Coutinho foram condenadas  pelo Santo Ofício, sendo todos os seus bens confiscados. As terras da Fazenda Grande, repartidas, foram vendidas a terceiros, que voltados à produção de alimento para a cidade e região das minas, abandonaram a produção de açúcar, destruindo o Engenho de N. S. da Ajuda com a reciclagem de seus materiais.

 


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As sesmarias de terra doadas constituíam as fazendas, e os engenhos eram estruturas agroindustriais instaladas nas fazendas. Em sua quase totalidade eram os engenhos de açúcar, sendo alguns para produção de farinhas. Engenhos de açúcar eram unidades formadas por construções simples, tendo núcleos base em estruturas mecânicas de moenda de cana, acionadas por força animal, ou roda d'água.  Seus  processos de produção constituíam da fervura do caldo de cana para sua  transformação  em mel de cana e sua cristalização, processo que consumia muita lenha. Em razão da pouca existência de rios com volume de água para movimentá-los, na Baixada de Irajá a maioria dos engenhos eram de moendas de tração animal, e estes quando de pequeno porte eram classificados como engenhocas.



Engenhoca por tração animal do Século XVII
Domínio público

 Instalação típica a da unidade instalada por Antônio de França como Engenho de N. S. da Ajuda, em cerca de 1575. A mesma utilizada por Jorge de Souza Coutinho em suas primeiras produções de açúcar, e operacional até cerca de 1630.



Engenho real de tração por roda d’agua do século XVII
Domínio público
 Engenho típico ao construído por  Jorge de Souza Coutinho em cerca de 1630, formando o novo Engenho de N. S. da Ajuda. Foi ele localizado em área frente a colina hoje da Àrea de Proteção Ambiental Fazendinha da Penha.



Casa grande do século XVI 
Divulgado na Internet – Domínio público

A casa grande assumida por Jorge de Souza Coutinho, possivelmente erguida por Antônio França, teria sido uma típica sede de engenhos do século XVI, construída de madeira e blocos de barro em taipa/faxina. Como ficavam afastados do litoral, os engenhos estavam sujeitos a ataques do gentio ainda não dominado. Para sua defesa, a casa de sede, um fortim sobre uma elevação, era construída de forma a possibilitar a vigília e a defesa de eventual agressão indígena. Dado ao material  construtivo de fácil desagregação, atualmente delas não restam ruínas.



Segunda casa grande da Fazenda Grande em ruina - 1920
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

Substituindo a primitiva casa grande no extremo oeste de suas terras, Jorge de Souza Coutinho, em cerca de 1630,  construiu, para a Fazenda Grande, uma nova sobre colina próxima ao seu porto de mar, atual local da Àrea de Proteção Ambiental Fazendinha da Penha. Amplo prédio de pedra e cal, tijolos, telha e madeira nobre, tendo alpendres / varandas sustentadas por colunas toscanas.  Passando por várias reformas e ampliações no século XVIII, posteriormente abandonada encontrava-se em princípio  de ruína no início do século XX.  Demolida em cerca de 1960, atualmente suas colunas encontram-se preservadas na Fazendinha da Penha.



Locaização do Engenho de N. S. Ajuda e da Casa Grande da Fazenda Grande de 1630 
Montagem de Ronaldo Luiz Martins sobre imagem Google Earth

Sobre imagem aérea (2025) de região do bairro da Penha, a demarcação da localização do segundo Engenho de N. S. da Ajuda à margem do Rio Gruçai, onde tinha sua roda d’água, e da segunda Casa Grande da Fazenda Grande sobre a colina hoje da Área de Proteção Ambiental Fazendinha da Penha.



Colunas da Casa Grande da Fazenda da Penha preservadas 
Site APA Fazendinha da Penha

A Sociedade Nacional de Agricultura, fundada em 1897 e desde 1900 proprietária da área de 144 mil metros quadrados, onde se encontrava a Casa Grande da Fazenda Grande, após a criação da APA Fazendinha da Penha, reestruturou ela em parque público, no qual preservou as colunas toscanas que sustentavam as varandas desta casa, que já em ruína completa teve que ser demolida, Destaque desta preservação são a escadaria e o pórtico de colunas da varanda, aproveitadas com caramanchão.


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FAZENDA DA PENHA

          Igual caminho de investimento de Jorge de Souza Coutinho, trilhou seu vizinho Balthazar de Abreu Cardoso, em sua Fazenda da Penha. Inicialmente como fornecedor ao engenho de Coutinho, de cana, madeira, lenha, peças de olaria e pedras, para a dele e para sua, mas também na capacitação a produção de farinha de mandioca, mas os seus investimentos foram menores. Ainda sem pensar na montagem de engenho de açúcar, o que faria anos mais tarde, eram estes a aquisição de escravizados para o trabalhos brutos, a  demarcação de gleba para plantio de cana e mandioca e nelas a derrubada de matas, capatazes, mestres oleiro e cavoqueiro para exploração de olaria e pedreira, bem como a construção e equipagem da “casa de farinha”, necessária ao processamento de mandioca, essa de bem menor custo que um engenho.

          Tendo a primitiva Praia de Apicu como seu porto, cortando suas terras de leste para oeste, Cardoso abriu o caminho indigena Api-e-cum em estrada carroçável até o seu limite com Jorge de Souza Coutinho, no encontro da estrada por este aberta sobre a continuidade deste mesmo caminho. Esta estrada, de trechos atualmente correspondentes a Av. Brás de Pina, parte da Rua Leopoldina Rego, Estrada do Engenho da Pedra e Rua Ouricuri, foi a principal rota que Cardoso, para oeste, implantando grebas de canaviais, exportava cana e outros produtos para o Engenho de N. S. da Ajuda. Para leste, com glebas de plantio de mandioca à margem, enviava por seu porto, farinha e alimentos para a cidade, e dela recebia mercadoria  de seu consumo.

          Não muito distante do porto, Balthazar de Abreu Cardoso instalou sua casa grande, moradia e sede administrativa de suas terras. Ficava ela na encosta norte da elevação rochosa a margem da estrada indo para o interior da Penha, local atualmente pertencente ao bairro de Ramos, ocupado pela Favela da Igrejinha em colina de 50 metros ao final da Rua Passos Coutinho.  Esta casa, de nível inferior porão construído de pedras irregulares extraída da mesma colina, seria de dois andares em paredes de tijolos, portas e janelas com aduelas em pedra, pisos de madeira e telhas canal, materiais que suas terras produziam.

          Ao tomar posse de suas terras, Balthazar de Abreu Cardoso tinha, como seu vizinho Jorge de Souza Coutinho com a aguardente, promissor mercado na produção de farinha de mandioca, mercadoria também valorizada na obtenção de escravizados da África, para venda em Buenos Aires, que ainda a comprava para seu consumo.  Para produzir farinha, enquanto destinava glebas de terra na metade oeste de sua fazenda, mais próximas ao engenho vizinho, para o plantio de cana, as a leste, mais próximas do porto, às dedicou ao plantio de mandioca, aproveitando roças desta abandonadas pelos indígenas. Para este plantio e fabrico, adquiriu um plantel de indígenas escravizados, em grande números de mulheres por serem, por cultura, mais adaptadas a este plantio e a fabricação de farinha, que seguia o mesmo processo de seu povo.

          Para a fabricação da farinha, abaixo da colina com a sua casa grande, construiu Cardoso a “casa de farinha”, próxima a estrada para o porto, a beira do caminho da colina para esta, possivelmente a atual Rua Passos Coutinho. De menor custo e tempo que um engenho, a casa de farinha era uma construção simples, de largo alpendre de madeira coberta por telha canal, equipada com uma roda de ralar mandioca, travessa com tipitis [8]  (espremedor de palha trançada) de prensagem da mandioca ralada, fornalha de tampo de pedra para secagem final da farinha, tendo área de descascagem da mandioca e de montagem de barricas de madeira para embalamento. Além da farinha, do espremer da mandioca era também obtida a tapioca ou tucupi, de consumo interno na alimentação doméstica de trabalhadores e escravizados. A lenha dos caules de mandioca colhida, eram queimada na fornalha de farinha, fogões, fogueiras, e negociada com os engenhos vizinhos. As cascas de mandioca retornavam às plantações como adubo. 

         Aproveitando os recursos de suas terras, ao sul abrangendo as vertentes da Serra Chorona (depois Misericórdia), onde se concentrava densa floresta, elevações rochosas e barreiras, abrindo caminhos para seu interior, para seu consumo, suprimento aos engenhos vizinhos e comércio com a cidade, Cardoso estabeleceu núcleos de extrativismos, excetuando-os da faixa de 880 metros (400 braças) mais alta serra acima, mais difíceis de exploração, doadas em 1638 por Balthazar de Abreu Cardoso a Santa Casa da Misericórdia[9]

          A madeira, abundante serra acima, além das derrubadas para as plantações e abertura de estradas, traçadas em toras para carpintaria/marcenaria e lenha, tinha especial extração as de hoje chamadas “madeira de lei”, para a confecção das resistente caixas de açúcar em exportação pelos engenhos.  Este extrativismo de madeira, iniciado nesta época e continuado até a primeira metade do século XX, particularmente nas vertentes norte e leste das serras da Misericórdia e Juramento (Maciço da  Misericórdia),  atualmente se  refletem nas encostas descampadas e nas ocupações subnormais de favelas,  destacadamente o chamado Complexo da Vila Cruzeiro, na Penha, consequência direta desta primeira. 

          Em elevações e encostas onde sobressaia a rocha não sedimentar, eram extraídas pedras brutas, cascalhos e blocos regulares de granito em “pedra de cantaria”, utilizadas em construções diversas, exportadas para vizinhos e a cidade. Destas pedreiras rústicas, ainda se encontram vestígios na região da grande Penha, como os observados em colina de 69 m localizada na continuidade da Rua Ministro Moreira de Abreu  e entorno das ruas Padre Domingos Carneiro, Capitão Aroldo Leitão e General Rocha Calado, tendo mais acima a grande pedreira em exploração (2025) da empresa Polimix Pedreira Inhaúma, e próxima à Subestação Elétrica de Olaria. 

          Na oportunidade de sua demanda interna, de seus vizinhos e da cidade, por produtos de olaria, como  vasilhas de uso doméstico, tijolos, telhas, manilhas e particularmente dos cones de pão de açúcar consumidos por engenhos, Cardoso abrindo estrada para as margens do atual Rio Numes, fonte de água essencial a manufatura, aproveitando o solo e encostas barrentas estabeleceu, nos entorno deste rio,  núcleos de extrativismo e confecção de peças  barro.  Estes núcleos oleiros, alcançando alto nível de produção e qualidade, passando por diversos proprietários, permaneceram produtivos até a segunda década do século XX, quando suas ainda existências deram nominação à estação ferroviária da Leopoldina e ao atual bairro de Olaria.  Eram estas olarias situadas em área, no passado conhecida por Invernada, de descanso  e estabilidade de gado ao abate pelo Matadouro da Penha; onde foi unidade da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e atualmente é conjunto habitacional de militares desta corporação. Gradativamente destruídas, pela movimentações de terras seguidas, destas olarias não restam materiais conhecidos, mas vestígios de um de seus locais de extração de argila é observado na colina de 50 m, situada entre as ruas Ministro Moreira de Abreu, Paranema e Delfim Carlos, bairro da Penha, onde os côncavos das extrações são utilizados como estacionamento de veículos.

Ainda em cerca de 1630, já bem capitalizado, diversificando a base de seus negócios, Balthazar de Abreu Cardoso monta seu próprio engenho de açúcar. Este, localizado em área entre a sua Casa Grande e a Casa de Farinha. Era ainda uma engenhoca de tração animal, referenciado a N. S. do Rosário, louvor da capela por ele fundada, em 1632,  junto ao rochedo Penha. Para seu engenho, Cardoso passou a convergir toda a cana de seus partidos, deixando de fornecê-las ao Engenho de N. S. da Ajuda, que neste mesmo tempo tinha novas instalações e ampliava seus próprios partidos fornecedores. 

Após 1647, com a morte de Balthazar de Abreu Cardoso, sem perda da  hegemonia familiar, a Fazenda da Penha foi dividida administrativamente entre seus filhos Ignácio Rangel Cardoso, Pedro de Abreu Rangel e Bartolomeu Abreu Cardoso. Em cerca de 1650, investindo em suas partes do patrimônio, Pedro de Abreu Rangel e Ignácio Rangel Cardoso, para aumentar a produção de açúcar, ampliaram a capacidade do Engenho de N. S. do Rosário, e junto a ele construíram um segundo engenho, este de N. S. da Conceição, instalando também, junto a Casa  Grande, uma ermida em orago a esta padroeira. Situados à beira de uma colina de afloração rochosa, depois unificados, passaram estes a serem conhecidos como Engenho da Pedra, assim nominado por sua localização. Este novo engenho, mais moderno à sua época, com duas grandes moendas de três rolos de tração animal, dupla fornalha de caldeiras e amplas casas de cura e encaixotar, teria produção superior ao seu vizinho Engenho de N. S. da Ajuda.

     É supostamente possível, sem que haja vestígios conhecidos, que este engenho e a casa grande, seriam supridos de água por chafariz próximo, com fluxo corrente captado no Rio Nunes e a ele conduzido por aqueduto de manilhas de barro, com despejo ao mar por vala aberta à margem da estrada, está para adiante nominada como Estrada do Engenho da Pedra.  O aqueduto de manilha teria existido até o final da primeira metade do século XIX, quando extinto o engenho, foi destruído em seguidas movimentações agrárias e urbanas.

      Em muitas citações o Engenho da Pedra aparece como originariamente construído e propriedade da Família Soutto Mayor, proprietária desde 1620 de sesmaria, já na Baixada de Inhaúma, limítrofe à sul a de Balthazar de Abreu Cardoso. Entretanto, como comprova citação de 1707-1723 (em portugues atual) abaixo, antes de 1700 a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, capela da casa grande do Engenho da Pedra, com  igreja reconstruída ainda existente em Ramos, foi fundada por Ignácio Rangel Cardoso,  sendo portanto até essa data situado esse engenho na Fazenda da Penha, onde originalmente foi ele construído. 

“Da milagrosa Imagem de Nossa Senhora da Conceição do Caminho de Irajá:

Seguindo o caminho, que vai do Santuário de Nossa Senhora do Bom Sucesso, para o povo de Irajá, se encontra a fazenda, que foi de Joseph [José] Pacheco, onde se vê a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, com quem os moradores vizinhos tem muita devoção. Esta Ermida fundou Ignácio Rangel Cardoso, e por sua a devia comprar o referido Joseph  Pacheco, e este com grande devoção serve e festeja a Senhora em seu dia oito de dezembro. [...] Desta Senhora faz menção o Padre Frei Miguel de São Francisco.” - In Santuário Mariano, e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora -  Frei Agostinho de Santa Maria – Lisboa – 1707.


          Fugindo da perseguição aos cristãos novos pelo Santo Ofício de  Lisboa, que os condenou e os expropriou de seus bens, Ignácio Rangel Cardoso, saindo do Rio de Janeiro, salvando seu capital, vendeu sua parte da Fazenda da Penha, com o Engenho da Pedra, casa grande e capela de N. S. da Conceição, a Joseph Pacheco, que constituiu a Fazenda do Engenho da Pedra, mais tarde, em cerca de 1750, comprada ou arrematada pelos Soutto Mayor. Possivelmente  Joseph Pacheco fosse preposto ou membro por casamento deste clã. Após 1720, a Fazenda da Penha, como sua vizinha Fazenda Grande, seja por confisco do Santo Ofício ou por venda  de seus herdeiros, já aparece retalhada em menores fazendas, e faixa de terra de entorno rochedo Penha, em posse da Venerável Irmandade de N. S. da Penha de França.
Entre os desmembramentos da Fazenda da Penha, na segunda metade do século XVIII, além da passagem da área do Engenho da Pedra, como fazenda homônima, a Joseph Pacheco, documento existente na Torre do Tombo (Portugal), registra que as terras passadas a Venerável Irmandade de N. S. da Penha de França, antes teriam  sido compradas como Sítio da Pedra, pelo padre Francisco de Paredes. Este, cristão novo, filho de Manoel Paredes  da Costa, do clã dos Paredes de Sapopemba e Campinho, foi arrolado em processos do Santo Ofício, sendo este sítio confiscado, foi ele passado à Irmandade. [10]

         Ainda em 1711 aparecendo Bartolomeu de Abreu Cardoso, filho de Balthazar, como coronel de regimento de ordenanças, nas lutas de resistência à invasão do Rio de Janeiro por René Duguay-Trouin, na segunda metade do século XVIII, os clãs de Abreu Cardoso  e Souza Coutinho desaparecem das proeminências da Baixada de Irajá e cidade, apenas sendo destaque Balthazar Abreu Cardoso, como fundador da atual Basílica Menor de N. S. da Penha de França.


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Casa oficina de farinha do século XVII
Frans Post - 1648

Para fabricar farinha de mandioca (aipim), primeiro principal produto de sua fazenda, Balthazar de Abreu Cardoso montou uma instalação  na época conhecida como casa de farinha. Estava localizada próximo a sua casa grande, à margem da estrada para o porto,(atual Estrada do Engenho da Pedra), sendo ela um comprido alpendre de colunas de madeira  e cobertura de sapé. O processo de produção era o mesmo praticado pelas mulheres indígenas, que escravizadas, nos primeiros anos, nela foi a mão-de-obra utilizada.  Farinha ponta, era ela embalada em tonéis  ‘pipas’ ali montadas, depois conduzidas ao porto próximo, em remessa para a cidade. É pressuposto que esta casa de farinha, com vários seguidos melhoramentos e novos proprietários, persistiu ativo até a segunda metade do século XIX, quando então foi totalmente arrasado, não restando dela vestígios.






Ruinas da casa grande da Fazenda da Penha 
Acervo do Museu da Maré

A casa grande da Fazenda da Penha, construída por Balthazar de Abreu Cardoso e concluída em cerca de 1620, era um casarão de dois pisos levantado sobre um alicerce porão que a nivelava sobre terreno íngreme. Era seu porão levantado em pilastras de pedras brutas, perfeitamente encaixadas, retiradass de pedreira na mesma colina. Era o casarão, cercado de varandas, de colunas de pedra de igual formação, fechado por tijolos, portas e janelas com aduelas de pedra,  paredes internas de madeira sobre assoalho de tábuas e cobertura em telha canal. Todos os materiais nela aplicados foram de produção da própria fazenda.  Semi abandonada em cerca de 1890, permaneceu ocupada por invasores até 1918, quando nela foi instalado, por ação popular, um hospital de emergência às vítimas da Gripe Espanhola.  Após a epidemia, com paredes e assoalhos ruindo, foi totalmente abandonada. Nas décadas de 1930 e 1940, a população que se assentava em seus entornos, para levantar suas casas, foi retirando os materiais do casarão, que foi totalmente demolido, restando a estrutura de seu alicerce. Este permaneceu preservado (foto à esquerda) até o final da década de 1950, quando, iniciada a ocupação da Favela da Igrejinha, visando a construção de casas, e mesmo à venda, seus moradores passaram retirar as pedras das colunas, parti-las em pedaços menores (foto da direita). Entretanto, parte desta pedras, muito pesadas e duras, não favoreceram a retalhação, sendo largadas junto as poucas mais não retiradas. Movimentações de terras em obras vizinhas, aterraram o conjunto restante, sendo atualmente só possível seus encontros por trabalhos de arqueologia.





Localização das ruínas da Fazenda da Penha 
Acervo do Museu da Maré – Imagem Google Earth

Pesquisas no acervo da Igreja de N. S. da Conceição de Ramos, identificaram uma planta de localização desta igreja em cerca de 1930,  no qual pode-se observar o ponto onde se encontravam as ruínas da casa grande da Fazenda da Penha, e a pedra de referência aos engenhos de N. S. do Rosário e N. S. da Conceição como Engenho da Pedra.


Praia do Apicu 
Augusto Malta - 1926. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Para exportação dos produtos da Fazenda da Penha para a cidade e entornos, e importações para ela, no extremo sul do litoral de suas terras, na Baía de Guanabara e antiga Praia do Apicu (brejo de água salgada à beira-mar), Balthazar de Abreu Cardoso criou um pequeno porto de mar, não mais que uma rústica ponte-cais (píer), uma passarela sobre água rasa suportada por estacas de madeira, onde em maré alta atracavam faluas e canoas, que descarregadas e carregadas durante a maré baixa, quando encalhadas na areia, zarpavam na maré alta seguinte. Formado em cerca de  1620, este porto, com sucessivas melhorias, esteve ativo na movimentação de cargas da Fazenda da Penha, até  sua extinção em meados do século XVIII, continuando para seus entornos até  cerca de 1930, quando por movimentações de terras para a Av. Brasil, Ilha do Fundão e Complexo da Maré, foi destruído e a Praia do Apicu aterrada. Na foto acima se observa a estrada / caminho de terra até o porto e vestigios deste.




Engenho de açúcar semelhante ao Engenho da Pedra   
Frans Post - 1648

Originário de engenhoca implantada por Balthazar de Abreu Cardoso em 1630, e por seus filhos, Pedro de Abreu Rangel e Ignácio Rangel Cardoso,  em cerca de 1650 ampliada em dois mais modernos engenhos, depois unificados, o Engenho da Pedra foi, nos séculos XVII e XVIII, uma das maiores instalações agroindustriais de produção de açúcar do norte da cidade do Rio de Janeiro.  Passando por vários proprietarios, entre eles Joseph Pacheco  e a família Souto Mayor, na primeira metade do século XIX estava decadente, produzindo mais aguardente que açúcar, seja pela derivação desta produção para os Campos de Goitacazes e do Engenho Central de Sapopemba, este na segunda metade do século XIX em propriedade de Irineu Evangelista de Souza – Visconde de Mauá. Abandonado, no início do século XX estava totalmente arrasado, tendo todo o material de sua construção aproveitado pela população local.




Localização dos vestígios do Engenho da Pedra e da casa grande 
Montagem de Ronaldo Luiz Martins sobre imagem Google Earth

A partir da planta de localização da Igreja de N. S. da Conceição de Ramos, de cerca de 1930 (ilustração acima), sobre esta imagem aérea do bairro de Ramos, na colina da Favela da Igrejinha (também conhecida como Morro da Bela Vista, do Castelo e Boa Vista),  entre a Estrada do Engenho da Pedra – ruas Gonzaga  Duque – Araguari – N. S. das Graças (a esquerda), com base nesta igreja, sucedânea da primitiva capela de mesmo orago pertencente à Fazenda da Penha (1), foi possível identificar as localizações da casa grande desta  fazenda (2), do Engenho da Pedra (3), e do afloramento rochoso, já em muito reduzido em pedreira (4), referência a denominação deste antigo engenho, já destruído, e da estrada a frente.



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DESENVOLVIMENTO DURANTE O SÉCULO XVII

    Na crescente Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, os seus primeiros 150 anos foram de desenvolvimento da sua ocupação social e econômica, que de cidadela  militar de defesa da Baía de Guanabara, sob o teto econômico da Coroa Portuguesa, gradativamente evolui a condição de vila cidade de uma capitania auto sustentada.  Nos seus primeiros 50 anos, se afastando do mercantilismo extrativista do pau-brasil, muito focada no Comércio do Atlântico com o sul da América Espanhola, particularmente com a também crescente Buenos Aires, para esta comercializava, e até contrabandeava, escravizados africanos, alguns produtos próprios e intermediados de Portugal. Mesmo obtendo boa sustentação em lastro prata, possuía  pouca produção própria, que fora a de seu consumo, estava mais voltada a da aguardente e farinha de mandioca, estas moeda de troca, na África, de escravizados. Nos cerca de 100 anos seguintes, competindo com as capitanias da Bahia e Pernambuco, foi a base de sua econômica a produção agroindustrial do açúcar, que exportava para Portugal.

Após os poucos resultados produtivos das terras destruídas, nos primeiros anos da cidade, a participantes da conquista e oriundos de São Vicente, como Antônio de França na Baixada de Irajá e Brás Cuba na região de Meriti, essas efetivamente não ocupadas, como já acima destacados, na primeira década do século XVII, novas concessões e redistribuição de terras foram procedidas no recôncavo da Baía de Guanabara, em São Gonçalo e em maior número na Baixada de Irajá. Condição primeira destas conceções, foi a implantação nelas de engenhos de açúcar, canaviais e casas de farinha.

Observe-se que essa redistribuição de terras teve como principal objetivo promover o aumento da capacidade exportadora do Rio de Janeiro no comércio no Atlântico Meridional, como já comentado, com Angola, Rio da Prata e capitanias vizinhas, onde, pelas primeiras décadas do século XVII, na agroindústria da cana mais se destacava a aguardente, sendo a do açúcar a ela sobrepondo nas décadas seguinte em exportação para o mercado internacional Portugues, em somatório as das capitanias da Bahia e Pernambuco.

Mas, por este século e o seguinte, em particular na Baixada de Irajá, o açúcar, a aguardente e a farinha de mandioca, não foram as únicas produções econômicas das áreas rurais a norte e oeste da Cidade do Rio de Janeiro. [11] Logo implantadas, as fazendas-engenhos, para seu consumo interno e de seus vizinhos, produziam alimentos granjeiros, cereais, criação de animais e extrativos, particularmente cal, madeira, pedra e argila de barro.  Na medida que estas produções tiveram excedentes, ou procurados por terceiros, aproveitando as demandas que se formavam, passaram a exportá-los para o interior rural, para a cidade e mesmo para Portugal e capitanias de baixo [12], tendo em contrapartidas a importação destas de produtos por elas não produzidos, materiais necessários às suas atividades e de bem estar de seus proprietários e colonos. 

Para essas exportações, não dependentes de excedentes, no Sertão  da Penha, se destacou a Fazenda da Penha de Balthazar de Abreu Cardoso, que por regime de encomendas, desenvolveu unidades semi-industrializadas de produtos de madeira, pedra e olaria-oleiro. Para além da agroindústria de açúcar e farinha, estas diversificações pioneiras foram marcantes empreendimentos na Baixada  de Irajá do século XVII.

Ao longo do século XVII, representado pelas fazendas Grande e da Penha, o Sertão da Penha, com seu desenvolvimento social e econômico, incorporou-se, a partir de 1644, a Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, na qual desapareceu a sua regionalidade.  Assim, incorporando-se também os sertões de Irajá, Pavuna e Campinho, torna-se esta Freguesia a referência social, econômica e administrativa da Baixada de Irajá, onde ao longo de antigos caminhos indígenas formaram-se pequenos arraiais, pontos de jornadas e vendas [13], e nos rios e litoral da Baía de Guanbara, portos de movimentação de mercadorias com rústicos armazem, e proximo aos maritimos, a presença de aldeamentos “caiçara” de pescadores. Entre estes se destacam o porto criado por Jorge de Souza Coutinho, depois conhecido como de Maria Angu, e o de Apicu, de Balthazar de Abreu Cardoso, que permaneceram ativos até  a primeira metade do século XX.

O histórico do primeiro século da efetiva ocupação portuguesa da Baixada de Irajá, em que predominava a presença de cristaos novo, teve seu termino a partir da primeira decada século XVIII, quando por força de inúmeros confiscos pelo Tribunal de Enquisição, muitas das primivas grandes fazendas-engenhos, entre elas as do Sertão da Penha, foram espropiada e suas terras retalhadas a novos proprietários.  Marca também essa transição a predominança economica do ouro das gerais a do açucar.


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MESTRES DE OFÍCIOS


 Divulgado na Internet – Dominio Público

Para a construção, manutenção e produção das fazendas e engenhos, era necessário ao investidor contratar mestres de ofícios, profissionais de diversas especialidades, como carpinteiros, ferreiros, latoeiros e outros. Assentados em terrenos de beira de estradas ou partidos, com seus familiares, empregados e escravizados, gradualmente em seus entornos se formavam arraiais. Seus serviços comumente eram compartilhados por vários senhores de engenhos.  Em particular, Balthazar de Abreu Cardoso, teve de contratar vários mestres oleiros, carpinteiros e cavouqueiros, para produção de peças de barros, madeiras e pedreiras.



MÃO DE OBRA ESCRAVA


Como por mais de 300 anos em todo Brasil Colônia e Império, nas fazendas Grande e da Penha, para os trabalhos  mais pesados e intensos dos engenhos e demais produções e serviços, foi utilizada a mão de obra escravizada. Nas duas primeiras décadas do século XVII, em sua maioria os escravizados eram indígenas Tupinambá, descendentes dos Tamoio derrotados na guerra de conquista da Baía de Guanabara em 1567, e capturados de outros grupos. Destes, as mulheres, por sua cultura de origem, foram mais utilizadas nas plantações de cana, mandioca e, particularmente na Fazenda da Penha, na produção de farinha e de cerâmica de barro. Ao tempo, tornando-se mais dificil e rara a escravisação de indigena, estes foram gradativamente substituidos por escravizados africanos, que após 1640 já eram totalidade, sendo entre estes presentes, em trabalhos simples de oficios, agricultura, transporte e “caiçara”, em condição de semi escravidão por sobrevivencia, “cablocos” descendentes de indias escravisadas e homens livres. 



Necessários, mas secundários, aos principais processos produtivos das fazendas e engenhos do norte e oeste da Cidade do Rio de Janeiro, quando os primeiros destes foram implantados, as demandas de produtos de extrativismo de madeira, pedra, argila, calcário, e da agropecuária, dentro do recursos locais, eram gerados pelos investidores em seus próprios territórios, e os não neles possíveis ou de maior técnica, tempo e investimento, eram encomendados aos vizinhos que deles tivessem capacidade de produção. Passados os primeiros momentos da implantação da atividade principal, quando a demanda destes produtos se tornavam cíclicas e seus investimentos materiais e humanos passavam a quase ócio, passaram eles, quando demandados, a serem encomendados aos que em suas regiões melhor os produziam.  Estas práticas, logo adotadas por as novas fazendas e engenhos  que se emplantaram, gerou nas freguesias rurais a formação de núcleos de artesanato e pré-industrial destes produtos. Na formação desses núcleos, em suas atividades produtivas muito colaborou os indígenas escravizados e semi-livres, que culturalmente , muito dominavam técnicas e processos destas.




EXTRATIVISMO DE MADEIRA

 

                                                   Carpintaria                                                   Serraria 
                                                  Benedito Calixto                                                          Jean-Baptiste Debret

Com grande extensão de mata densa em suas terras, é possível supor que Balthazar de Abreu Cardoso, tenha implantado a primeira carpintaria e serraria de produção contínua da Baixada de Irajá, fornecendo por encomendas toras, tábuas, caibros, ripas e vigas, para os engenhos e fazenda da região e para cidade, particularmente tábuas de madeira nobre já cortada para a montagem de caixas de açúcar. Possivelmente também poderia fabricar carros de boi, carroças, móveis rústicos e até mesmo canoas. Não possível de confirmação, ainda no final da década de 1950, relatos da memória popular da região, davam conta que a primeira escadaria ao alto do rochedo da Penha, construída por filhos de Balthazar de Abreu Cardoso, foi feita com madeiras trabalhadas na Fazenda da Penha.  Leve traços de desmatamento sistemático podem ser observados em região do bairro de Olaria próxima a Igreja da Penha.




EXTRATIVISMO DE PEDRA

 Pedreira 
Johann Moritz Rugendas - Recorte

Com suas terras em grande parte situadas ao longo das vertentes norte da Serra Chorona (depois Misericórdia), a Fazenda da Penha possuía, como rochedo que lhe deu nome, muitos afloramentos rochosos possíveis de fácil extração de granito de boa qualidade.  Para explorar este potencial, Balthazar de Abreu Cardoso contratou mestres cavouqueiro para o corte das pedreiras e cantareiro para dar formas ao granito extraído, ambos contando com indígenas, cativos ou não, conhecedores da terra e da obtenção e polimento de pedras. Com estes, em regime de “meia”, estabeleceu unidade artesanal e semi-industrial de produtos  de granito, pedreira em sua essência, produzindo para si e por encomendas a seus vizinhos, e até mesmo para cidade, pedras brutas de diversos tamanhos e peças de granito em cantaria trabalhada em formas diversas. Registros históricos da cantaria produzida nestas pedreiras são as colunas das varandas da segunda casa grande da Fazenda Grande, hoje preservadas na Área de Preservação Ambiental Fazendinha da Penha.  Ainda na década de 1950, havia próximo à estação Pedro Ernesto (da antiga E. F. Leopoldina, atual Olaria) vendedores de panela e pratos de pedra que afirmavam serem de produção local. Atualmente, nos bairros da Penha e Olaria, existem cortes rústicos de pedreiras e acima, na encosta da Serra da Misericórdia, está ativa grande área de extração de granito da empresa Polimix Pedreira Inhaúma 






EXTRATIVISMO DE ARGILA BARRO

Olaria e oleiro  
Divulgadas em Internet

As fazendas-engenhos dos séculos XVII e XVIII, para construções e manutenções, suas e de seus partideiros e colonos, demandavam produtos de barro como tijolos, telhas, manilhas, formas de pão de açúcar, e de consumo como panelas, pratos, travessas, potes e outros, particularmente em maior quantidade para a alimentação de escravizado, o que nem sempre podia obter em produção própria.  Aproveitando essa esta demanda e as boas áreas barrentas de suas terras, ainda na segunda década do século XVII, Balthazar de Abreu Cardoso, com mestres em olaria e em cerâmica, criou em suas terras unidades artesanais e semi-industriais para produção formas de pão de açúcar (de grande consumo pelos engenhos), tijolos, telhas, manilhas, outros de olaria, e de cerâmica de barro demandadas para uso doméstico e de escravizados. Ao longo de anos, passando por vários proprietários em regime de meia com os produtores, estes depois proprietários, como pequena indústria, chegaram ativas até cerca de 1950, quando já decadentes se extinguiram. Mas, unificadas em uma única maior olaria, tão expressivas ainda era a sua produção nas décadas primeiras do século XX, que historicamente se perpetua no topônimo do bairro de Olaria e sua estação ferroviária.







----- NOTAS -----


[1] Antônio de França, originário das Ilhas de Cabo Verde, nascido em cerca de 1510.  Filho de João de França, cristão-novo, senhor de engenho estabelecido desde 1494 em Calheta, Cabo Verde, da qual foi um dos maiores produtores de açúcar.  Vindo para o Brasil em 1530 na expedição de Martim Afonso de Sousa, se estabelece em 1532 na Vila de São Vicente, da qual participou da fundação, nela implantado um engenho de açúcar, tendo também recebido sesmaria na região de Capivary.  Em cerca de 1565, mudou-se ”com fato e cabana, mulher e filhos”, para o Rio de Janeiro, “que estava muito necessitado de gente e povoadores”.  Em 14 de julho de 1568, Antônio de França recebeu do governador Salvador Corrêa de Sá a sesmaria de 1,5 léguas (+/- 9.900 metros) de frente, por 3 léguas (+/- 19.800 metros) de profundidade, na costa de Piraquanopã  dos indígenas  (da foz do Rio Meriti a foz do Rio Ramos), a primeira concedida na Baixada de Irajá, que nela, ocupando a tapera de Eirajá, fundou, em 1572, ou 1574, o Engenho de N. S. da Ajuda, em local próximo ao atual Largo do Bicão na Vila da Penha, para o qual, a 3 de julho de 1569, contratou Antônio Dias como seu mestre de açúcar.   Em 8 de outubro de 1569, aparece como fiador de João da Fonseca, nomeado escrivão dos órfãos. Em 25 de agosto de 1570, como testemunha a fiança prestada por Antônio Esteve e Manoel Gonçalves, em favor de Guiomar Fernandes.  Em 1571 foi Oficial da Câmara do Rio de Janeiro. Benfeitor da Companhia Jesus, a ela doado uma lâmpada de prata para a Igreja do Colégio; e como testemunha em carta de venda de Aleixo Manoel a Francisco de Barros do chão defrontes ao Colégio, que Francisco de Barros vende aos Jesuítas. Em 1585 aparece como doador ao Colégio de Jesus de sesmaria de chão no Morro do Castelo, do qual tinha posse desde 1568 ou 1574, ato somente confirmado em 1607.  Possivelmente já morto em 1592, em 1612 sua Fazenda Grande / Engenho de Nossa Senhora da Ajuda e uma ilha a ela fronteira é propriedade Jorge Souza Coutinho

[2] Jorge de Souza Coutinho, cristão novo nascido no Espírito Santo em 1577, filho de Ambrósio de Souza Coutinho, abastado agente do Comércio Atlântico, e Justa de Azevedo. Herdeiro de grande fortuna, em 1612, aos 35 anos recebeu a sesmaria da Fazenda Grande no Rio de Janeiro, que era antes de Antônio de França, e em 1642 tornou-se proprietário da atualmente aterrada Ilha de Saravatá, na foz dos rios Irajá e Meriti. Foi casado com Maria de Galegos, tendo os filhos Guiomar de Souza, Maria de Galegos Sousa, Vasco de Souza, Ignacio de Souza Coutinho, Manoel de Souza e Francisco de Souza Coutinho. Capitão de Terço de Ordenança, foi serventuário e escrivão proprietário do ofício de 2º tabelião do Público e Judicial e Nota da cidade, de 1614 a 1665, quando renunciou ao cargo em favor de seu neto Jorge de Souza Coutinho.  Foi também escrivão da Câmara da Cidade de 1625 a 1665, quando cedeu o cargo a seu filho Francisco de Souza Coutinho.  Em 1662, com sua mulher, doou a Fazenda Grande aos seus filhos Ignácio e Francisco de Sousa Coutinho, que com a morte do primeiro sem filhos, tornou-se dela o único proprietário.  Faleceu na Fazenda Grande em 1 de janeiro de 1668, aos 92 anos de idade.

[3] José Vieira Fazenda, em ‘Limites entre o Estado do Rio de Janeiro e o Districto Federal’ (Revista do IHGB Tomo LXVIII), informa que a sesmaria concedida a Antônio de França era de “1.500 braças em Irajá. Começavam ellas do actual porto de Maria Angu até o Rio de Irajá. França foi fundador da Fazenda Grande, ou de Nossa Senhora da Ajuda, da qual em 1642, era proprietário Jorge de Souza Coutinho, a quem o governador Duarte Corrêa Vasqueanes concedia também uma ilha, fronteira ao Engenho. Em 1652, Souza e sua mulher  Maria de Galhegos faziam cessão destas terras sitas em  Guguipiriri aos dous filhos Ignacio e Francisco. Dahi a divisão da Fazenda Grande. ... Tudo isto consta de documentos do Archivo Público, quando  em 1813, Amaro José Vieira, então proprietário de metade das terras compradas a José Pereira Dias, embargava a concessão de mangues fronteiros à sua legítima propriedade.” Adiante informa também que as terras doadas a Balthazar de Abreu foram de 600 jardas [de testada]. 

[4] Balthazar de Abreu Cardoso, cristão novo originário da Ilha da Madeira, nascido em cerca 1583, do qual as genealogias realizadas são imprecisas e nem mesmo a Venerada Irmandade de N. S. da Penha de França a possui, sendo confundida com de um seu homónimo de ascendência confusa em sobrenomes.  Por seu vínculo com a produção açucareira, é possível que com troca de nome em proteção ao Santo Ofício, fosse o mesmo Balthazar de Abreu Costa, batizado em 13 de novembro de 1583, no Espírito Santo, Calheta, da Ilha da Madeira, filho de Pedro da Costa e Inês de Abreu. Seu pai teria sido senhor de engenho, parcialmente arruinado pela derrocada da produção de açúcar na Madeira.  Emigrando para o Rio de Janeiro em cerca de 1600, em 1613 recebeu a doação da sesmaria que pelo rochedo nela existente, seria mais tarde a Fazenda da Penha. Casou-se em 1614 com Izabel Rangel Gafião, com cerca de três filhos homens: Pedro de Abreu Rangel, Ignácio Rangel Cardoso, Bartolomeu Abreu Cardoso e uma mulher. Em 1635, em suas terras, construiu sobre rochedo uma ermida e ao seu lado uma capela em louvor a N. S. do Rosário, origem da Igreja de N. S. da Penha. Foi comandante de terço de Ordenança recebendo o título de capitão, e, em 1637, vereador da Câmara do Rio de Janeiro, falecendo em cerca de 1647. Seu filho Ignácio Rangel Cardoso, também capitão de ordenança, em 1700 aparece como proprietário do Engenho da Pedra, com sua capela de N. S. da Conceição. Bartolomeu Abreu Cardoso, sucessor na propriedade da Fazenda Penha e coronel de Regimento de Ordenança, em 1710 e 1711, participou da resistência às invasões de Duclerc  e Duguay-Trouin. Em cerca de 1720, por serem cristãos novos, os herdeiros de Balthazar de Abreu Cardoso foram presos e processados pela Inquisição, sendo todos os seus bens confiscados pela Coroa, que os repartiu a novos proprietários.

[5] As descrições de localizações do primitivo Engenho de N. S. da Ajuda, sua casa grande, o remanso do Rio Irajá e da taba/ tapera de  Eirajá, são baaseadas  em pesquiza do autor, com recursos de geoprocessamento, em que supostamente identifica, nos limites dos bairros Vista Alegre, Brás de Pina e Vila da Penha, o engenho na colina onde atualmente é o Parque José Orlando Bernardes e a Areninha Cultural João Bosco de Vista Alegre, na Av São Félix; a casa grande em um plato mais alto na mesma colina, atualmente sob uma torre dentro do corredor de linhas transmissão de elétrica que atravessa a Av. Meriti;  o remanso na esquina da São Félix  com a Av. Meriti; e a aldeia indigina de Eirajá no atual Largo do Bicão. Não estão estes em área da possivel demarcação da Fazenda Grande apresentada em imagem destes trabalho, o que representa a impresisão de informações sobre a ocupação da Baixada de Irajá nos séculos XVI e XVII,  

[6] Sendo parte do chamado Comércio Atlântico ocorrido de 1580 até cerca de 1640,  a nascente Cidade do Rio de Janeiro comercializava, e muito contrabandeava, com Buenos Aires no Rio da Prata, além de seus próprio produtos, grande numero de escravizados, por seus negociantes adquiridos na África, muitos em troca de aguardente e farinha. Ampla explanação sobre este comércio é apresentada por CANABRAVA, Alice Piffer em ‘O Comércio Portugues no Rio da Prata (1580-1640)’ – Universidade de São Paulo / Ed. Itatiaia – São Paulo – 1984.

[7] É possível que a estrada aberta entre a da Penha e o novo Engenho de N. S. da Ajuda, em trecho retificado, seja atualmente a Av. Lobo Junior, e para adiante tenha desaparecido com a abertura das ruas Irani e Costa Rica.  A estrada para além do engenho, contornando a casa grande e em terras de Balthazar de Abreu Cardoso estendendo para praia de Apicu, em grande parte é também possível ser hoje a rua Comandante Vergueiro da Cruz.

[8] O tipiti era um tubo de palha trançada, utilizada pelos indígenas, particularmente Tupinambá, para espremer a massa de mandioca ralada, dela extraindo sua parte líquida. Do líquido assim extraído, exposto ao sol para desidratar, obtinham os flocos de tucupi,  ou tapioca como assim é hoje conhecida. A mandioca espremida era levada ao sol e a placa de pedra aquecida ao fogo, produzindo a manibat, farinha de mandioca.

[9] A doação de terras por  Balthazar de Abreu Cardoso a Santa Casa da Misericórdia é confirmada no texto “Ainda na provedoria de Sá e  Benevides registra-se a doação feita pelo irmão Balthazar de Abreu, em 9 de Dezembro daquelle  anno de 1638, de quatrocentas  braças de terra juntas a seu engenho de assucar,” apresentado por  Félix Ferreira em “A Santa Casa da Misericórdia Fluminense fundada no Século XVI” (Santa Casa da Misericórdia, Rio de Janeiro, 1898).  Desta doação, deriva a denominação do Maciço e Serra da Misericórdia. 

[10] Sítio da Pedra do Padre Francisco de Paredes é citado por Alberto Dines em “Vínculos da Fogo” (Companhia das Letras – 1992), pag. 355 e nota 68.

[11] Na historiografia do Rio de Janeiro, com base em se ter muitas  documentações que registraram movimentação de farinha, aguardente e, principalmente, de açúcar,  muito se destacam estes produtos como quase as únicas atividades econômicas das fazendas-engenhos de suas freguesias rurais, nos século XVII e XVIII. Não havendo expressivo número de documentos que registrem compras e vendas de outros produtos, aparentemente de consumos internos de suas fontes produtoras, pouco se referem a estas como de exportação ao consumo da cidade, capitanias e mesmo a Portugal.  Entretanto, pelas memórias  populares locais, que por muito persistiram, e usos e costumes neles ainda existentes, e mesmo no contexto do Rio de Janeiro (cidade e estado), pode-se auferir que não só de consumo interno, mas também  foram eles presentes como de exportação das antigas fazendas- engenhos. 

[12] As "capitanias de baixo" referem-se às capitanias hereditárias do sul do Brasil, mas por diversas vezes, em crises de abastecimento e principalmente por requisições do Governo Geral, das áreas produtivas da Capitania do Rio de Janeiro, foram feitas exportações para às capitanias de cima, ao norte do Brasil. 

[13] Pontos de Jornada eram locais de descanso, alimentação ou pernoites de tropeiros, carreteiros e viajantes, em encontros de caminhos-estradas e distâncias médias de uma légua, como pontos de percursos de quatro a seis horas de luz de dia.  O ponto de jornada de origem da atual localidade Estação de Irajá do bairro homônimo, é referenciada pelo autor em sua obra “Estação de Irajá Arraial da Encruzilhada”(e-book, 2023).  Vendas eram pontos de comércio de produtos de lavradores, conhecidas como vendas de varanda, que em grande maioria se assentavam junto ou próximas aos pontos de jornada. Caiçaras, em maioria de indígenas não escravizados, eram comunidades que tinham a pesca como atividade econômica.     



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O SERTÃO DA PENHA NO SÉCULO XVII

  Ronaldo Luiz Martins A PENHA                 Quarto macro núcleo do desenvolvimento ocupacional pós indígenas da Baixada de Irajá, seguint...